Título: Fôlego do celular está longe do fim
Autor: Heloisa Magalhães
Fonte: Valor Econômico, 19/01/2005, Empresas &, p. B2

Para quem se surpreendeu com os inéditos 19,232 milhões de novos celulares habilitados em 2004, aí vai outra notícia: a expectativa é de que, nos próximos doze meses, o volume de novos adeptos será um pouco menor, mas continuará elevado, em torno de 16,4 milhões. Em 2005, o crescimento da base deve ser menos estrepitoso do que em 2004. Ninguém acredita que seja provável sequer repetir o crescimento de 41,47% registrado no ano passado frente a 2003. Mas, surpresas à parte, há operadoras que trabalham com crescimento da ordem de 25%, um desempenho ainda expressivo, já que parte da ampla base atual, de mais de 65,6 milhões de clientes. A previsão é de que o país feche 2005 com 82 milhões de celulares em uso. As vendas inéditas registradas em dezembro devem-se não só à moda ou ao conforto da telefonia móvel, mas, em boa parte, à queda dos preços dos terminais. As promoções criaram condições para o celular se encaixar nos orçamentos mais apertados. Deve-se levar em conta, também, o otimismo em torno de recuperação da economia, o marketing acirrado das operadoras e, entre outros fatores, a queda - ainda pequena, mas já perceptível - do preço dos serviços. Tente pedir à operadora para desligar seu celular e veja o que acontece. Certamente, a empresa vai oferecer mundos e fundos, como a troca do aparelho a preços módicos, a suspensão do pagamento da assinatura por três meses no caso dos modelos pós-pagos e por aí vai. A entrada da Brasil Telecom (BrT) na telefonia celular nas regiões Centro-Oeste e Sul do país traduziu-se em um estímulo importante nessas áreas. Brasília passou a contar com níveis escandinavos de penetração: 100%. A BrT conquistou, segundo dados da empresa, 400 mil clientes em menos de três meses, com uma estratégia baseada na fidelização e nos benefícios para o assinante da telefonia fixa. O reflexo da entrada do novo prestador do serviço e do saudável aumento da concorrência fica claro nos números divulgados, terça-feira, pela Anatel. No Centro-Oeste, o aumento das habilitações, em dezembro de 2004, foi 54% superior ao do mesmo mês em 2003. No Paraná e Santa Catarina o percentual foi de 62%.

Até o fim do ano, serão 82 milhões de aparelhos

O fenômeno da expansão se repetiu em outras áreas: em Minas Gerais, o crescimento das habilitações foi de 42% na comparação do último mês do ano de 2004 frente a 2003. No Rio Grande do Sul, o percentual ficou em 39%; Bahia/Sergipe, 53%; o resto do Nordeste, 46%. Nos estados mais ricos da federação, onde a penetração é mais elevada - São Paulo e Rio de Janeiro - os percentuais ficaram em 39% e 23%, respectivamente. O resumo dessa ópera é que o sucesso das vendas está mudando a expectativa dos analistas. Muitos - baseados em declarações dos presidentes das operadoras, que vinham se mostrando preocupados com o excesso de promoções -, afirmavam que em 2005 as empresas iriam se preocupar menos com as promoções avassaladoras. O foco seria desacelerar o movimento de expansão, com as atenções se voltando para a formação de massa crítica. A busca passaria a ser pela maior rentabilidade e pelo aumento do uso de serviços do celular. Roberta Kosaka, do banco Brascan, está entre os analistas que reviram a expectativa. Em relatório distribuído a clientes, ontem, ele admite que as próprias operadoras dão sinais de que pretendem prosseguir na adoção de estratégias comerciais agressivas focadas na expansão da planta em 2005. Por isso mesmo, numa revisão das premissas, ele espera que a recuperação das margens operacionais seja postergada. No relatório, Roberta Kosaka observa uma pressão sobre as margens operacionais, especialmente nos balanços do quatro trimestre de 2004, por conta dos subsídios nos aparelhos, gastos com promoção, marketing e comissões de vendas. Mas o que fez as empresas oferecerem celular em parcelas de R$ 10,00 por mês? A resposta óbvia é a busca por clientes, mesmo que fossem os adeptos do modelo pré-pago, aqueles que gastam pouco, mas movimentam a rede e usam a infra-estrutura. Eles recebem mais chamadas do que fazem e, muitas vezes, os telefonemas são do aparelho fixo para o celular, o que remunera mais as operadoras de telefonia móvel. Aliás, esse assunto de remuneração da rede está em fase de discussão. As operadoras fixas querem reduzir o valor, que chega a responder por 50% da receita das operadoras celulares. O debate está aberto, mas ainda sem conclusão. Além de tudo isso, o preço dos terminais para as operadoras está baixando. Luiz Minoru, executivo responsável pelo Yankee Group no Brasil, lembra que em 2004 aumentou significativamente o número de fabricantes de telefones celulares no mercado brasileiro. Entrou a Venko, voltou a Gradiente, tomaram fôlego a Kyocera e a ZTE, entre outras. As asiáticas são beneficiadas por partirem de um cenário de alta competitividade e oferta de soluções para clientes que só podem pagar pouco pelo terminal. Com mais fornecedores, aumentou o poder de barganha das operadoras. A maior quantidade e variedade de produtos criou as condições para que fossem negociados custos melhores, lembra Minoru. Além disso, cresceu a diversificação de canais multimarca. Cada vez mais o varejo opta por vender celular. Desde os "high tech" até os coloridos, bonitinhos, do tipo que atrai os adolescentes. A novidade que corre é que cadeias do varejo de roupa estão fechando acordos com as operadoras para vender terminais. Vale lembrar que Vivo e Oi desfilaram na semana da moda, no Rio, e farão o mesmo a partir de hoje em São Paulo. Celular é mania.