Título: Pequenos deslizes que arranharam a imagem
Autor: Marli Olmos
Fonte: Valor Econômico, 19/01/2005, Empresas &, p. B3

Nem só de êxitos é feita a história de Carlos Ghosn. Dois episódios, ambos no ano passado, arranharam a imagem do ídolo do setor: problemas com qualidade dos veículos fabricados nos Estados Unidos e falta de aço no Japão. Há dois anos, a Nissan construiu fábricas no Mississippi e Tenesee e transferiu para lá a parte da produção do Japão que atendia o mercado norte-americano. Em abril de 2004, entretanto, os carros começaram a apresentar uma série de problemas. Analistas atribuíram isso à pressa em lançar modelos em fábricas onde a mão-de-obra ainda não estava completamente treinada. Na unidade de Canton, Mississippi, foram lançados cinco novos modelos em apenas oito meses. Gohsn teve de deslocar 220 engenheiros do Japão para os EUA para ajudar a resolver os problemas de qualidade. "Eu não estou dando a impressão de que sou perfeito", desabafou Ghosn durante entrevista com um grupo de jornalistas no salão do automóvel de Paris, em setembro. "Estamos com novas pessoas e novos processos e vamos resolver os problemas", garantiu. No fim do ano, a produção na Nissan parou no Japão por falta de aço e 25 mil veículos deixaram de ser produzidos. Toyota e Honda, não tiveram o mesmo problema, o que levou analistas ouvidos pelo "Financial Times" a concluírem que se tratava de retaliação devido à pressões sofridas antes pelas usinas de aço para redução de preços. Ghosn disse ao Valor que a falta de aço veio do aumento do ritmo de produção. "É um caso específico", destacou. O executivo lembra que os chineses, que puxaram a demanda de aço, já anunciaram investimentos em suas aciarias. "O preço em alta será um incentivo para muitas siderúrgicas investirem na produção", completa. No Brasil, o grupo já começou a testar sinergias. Em São José dos Pinhais (PR) funciona a primeira fábrica construída que compartilha linhas de produção de Nissan e Renault. A Renault, que começou a operar em 1998, ainda não conseguiu lucros. A recuperação da rentabilidade está prevista para 2006, depois do lançamento do Logan, carro pequeno com o qual a montadora pretende crescer. (MO)