Título: Aldo Rebelo questiona trava a soja e gado na Amazônia
Autor: Zanatta, Mauro
Fonte: Valor Econômico, 22/11/2006, Agronegócios, p. B11

Em franca campanha pela reeleição à Presidência da Câmara, o deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP) surpreendeu ontem ruralistas e aliados ao defender o plantio de soja e a criação de gado em áreas da Amazônia. "Porque não podemos ter pecuária na Amazônia? Porque não a soja? Não estou convencido disso", disse. "Não via, quando jovem, a ocupação do cerrado como uma tragédia, mas como um avanço. O produtor [que planta na Amazônia] não pode ser tratado como um criminoso".

Em evento da Comissão de Agricultura da Câmara sobre o futuro do setor, Rebelo afirmou que a questão ambiental tem se transformado num pretexto para uma "guerra comercial" dos países ricos para frear a expansão do agronegócio nacional. "Os brasileiros sabem que é necessário preservar a Amazônia. Mas os critérios de preservação devem atender aos nossos interesses. Não podemos aceitar imposições e ingerências estrangeiras", afirmou. "Onde estão as florestas e as populações nativas dos Estados Unidos e da Europa?". Estudo da Embrapa e do Ministério da Agricultura mostram que a fatia do Brasil na cobertura vegetal primária do mundo passou de 9,8% para 28,5% nos últimos oito mil anos. A participação da Europa (exceto Rússia) recuou de 7,3% para 0,1%

Aplaudido pela platéia de ruralistas, Aldo Rebelo atacou ONGs ambientalistas, funcionários do Ibama, procuradores do Ministério Público e até o governo da Bolívia pela imposição de restrições a projetos de infra-estrutura no país. "Ninguém consegue fazer investimentos em infra-estrutura porque é as negociações com o Ibama, o Ministério Público e as ONGs levam meses, anos. Temos uma legislação social, ambiental e trabalhista muito dura, muito forte para os produtores", disse. "Nos Estados Unidos e na Europa, usam-se hidrovias. Aqui, as ONGs vindas não sei de onde impõem ao Estado brasileiro a paralisia das obras e suas vontades. Americanos e europeus não têm autoridade moral para cobrar o Brasil. É uma arma de disputa comercial", afirmou, em referência à ONGs financiadas com recursos de Washington e Bruxelas.

E passou a criticar a oposição às obras das usinas de Jirau e Santo Antônio no rio Madeira, em Rondônia. "Quero saber se a Bolívia vai mandar no gás dela e também nos rios do Brasil? Só faltava essa", disse. "São obras de redenção para uma região que ainda vive a Era da corrida do ouro. Vamos virar a China do século 19, onde os chineses eram proibidos de entrar nos próprios portos?"

O presidente da Câmara afirmou que EUA e Europa têm usado "vários diques" para conter a agricultura brasileira. "Os subsídios, os monopólios dos insumos e a questão ambiental precisam ser confrontados com destemor ou teremos um esforço frustrado nessa tentativa de expansão", afirmou. Rebele criticou ainda a concentração de terras, a degradação dos solos e as deficiências em infra-estrutura e logística, além do desequilíbrio cambial.

O evento também discutiu gargalos internos à expansão da produção e o estágio das negociações internacionais. O presidente da Abipecs (exportadores de suínos), Pedro de Camargo Neto, lembrou que os acordos na Organização Mundial do Comércio (OMC) pouco contribuíram para o agronegócio nacional. "Não foi nem será porque a Rodada Doha vai fracassar", disse. "Nos últimos 20 anos, nossos avanços foram graças a alterações macroeconômicas e melhorias institucionais". Participaram dos debates Marcos Jank (Icone) e Roberto Azevedo (Itamaraty).