Título: Estudo sobre o setor aponta cenário pessimista
Autor: Francisco Góes e Sérgio Bueno
Fonte: Valor Econômico, 19/01/2005, Empresas &, p. B7

Em meio a anúncios envolvendo a construção de novos estaleiros no país, um estudo da Coppe/UFRJ, feito sob encomenda do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), mostra cenário bastante conservador sobre a retomada da indústria naval brasileira. O Valor apurou que o trabalho, ainda em fase de conclusão pela Coppe, mostra que a demanda interna por novos navios, prevista para próximos anos, garante, somente, a operação de dois grandes estaleiros no Brasil, capazes de construir embarcações entre 150 mil e 200 mil toneladas de porte bruto (TPB).

O estudo, chamado de "Indústria Naval Brasileira - Situação Atual e Perspectivas de Desenvolvimento", conclui que a demanda doméstica, representada pelas encomendas de 42 petroleiros da Transpetro e por alguns navios de contêineres e graneleiros, que podem ser construídos por armadores privados, sustentam o funcionamento dos estaleiros nacionais por horizonte de cinco a dez anos. Passado esse ciclo, os estaleiros fechariam as portas, como ocorreu no passado quando foram criados passivos milionários. Em cinco anos, o estudo aponta para a construção de cerca de 15 embarcações pelo setor privado, entre graneleiros e navios de contêineres. Fontes do setor interpretam que o estudo pretende mostrar que é preciso que os estaleiros aproveitem a demanda interna, estimulada pela Transpetro, para construir, nos próximos dez anos, um padrão de competitividade que garanta a sobrevivência da indústria naval, com escala e operação contínua. Desta forma, o setor poderia "andar com as próprias pernas" voltando-se para o mercado, embora seja difícil de imaginar que os estaleiros nacionais possam concorrer com empresas da China e Coréia. O trabalho da Coppe levou oito meses para ser realizado e envolveu entrevistas com cerca de 25 estaleiros. O BNDES deve aproveitar os estudos da Coppe como subsídio na análise de pedidos de financiamento feitos por estaleiros. O banco é o agente financeiro do Fundo de Marinha Mercante (FMM), principal fonte de financiamento do setor no país. De acordo com o levantamento, existem apenas dois estaleiros no país com capacidade de construir embarcações de grande porte, tipo Suezmax, e navios de contêineres para 3 mil ou 4 mil unidades. São eles o Bras Fels (ex-Verolme), de Angra dos Reis, e o Sermetal (ex-Ishibrás), no Rio. As demais instalações estariam aptas a construir de forma competitiva embarcações menores, tipo Panamax (70 mil a 80 mil TPB). Mesmo assim, as variáveis para permitir a construção de grandes navios no Bras Fels e no Sermetal são complexas. O Bras Fels, pertencente ao grupo Keppel, de Cingapura, estará ocupado com duas grandes encomendas nos próximos anos, a construção das plataformas P-51 e P-52 da Petrobras. São encomendas com importante conteúdo tecnológico que devem colocar o estaleiro em uma boa posição internacional no segmento de plataformas. Já o ex-Ishibrás, que foi a maior empresa brasileira do setor, terminou arrendada à Sermetal, de empresários brasileiros, que opera o gigantesco dique seco para fazer reparos navais. Mas parte da área do antigo Ishibrás foi alugada a uma empresa de movimentação de contêineres. Para voltar a ser o que foi no passado, quando construiu navio de até 300 mil TPBs, o Sermetal precisará de investimentos, além de recuperar parte da área hoje destinada à operação de contêineres, segundo indica o estudo realizado pela Coppe. O trabalho mostra ainda que novas unidades podem ser viabilizadas caso o Sermetal não seja recuperado e o Bras Fels decida não entrar forte na construção naval, especializando-se em plataformas. (FG)