Título: ABN descarta venda e quer ser o 5º maior da Europa
Autor: Assis Moreira
Fonte: Valor Econômico, 19/01/2005, Finanças, p. C1

O presidente do ABN AMRO, Rijkman Groenink, considera extremamente "remota" a chance de que o maior banco holandês seja alvo de aquisição hostil, alertando que custaria caro demais para o banco estrangeiro que tomasse esse caminho. Em meio a rumores de fusão ou aquisição, o principal executivo do ABN AMRO disse em entrevista ao Valor que a expansão do banco prioriza o crescimento orgânico, espera forte crescimento dos negócios no Brasil e pela primeira vez confirmou a intenção de vender a Real Seguros. "Você pode imaginar que estaríamos aqui fazendo campanha para reforçar nossa marca mundial se pensássemos que não seriamos mais um banco com nosso próprio nome, com nosso próprio controle", reagiu Groenink em Portimão, cidade portuária de Portugal. Com toda a diretoria executiva, o ABN batizou um veleiro altamente sofisticado para participar da "Volvo Ocean Race", considerada a Fórmula 1 das regatas oceânicas, numa campanha de marketing de 20 milhões de euros para consolidar a marca da instituição nos cinco continentes. Só que nas últimas duas semanas o ABN AMRO vem ocupando as manchetes por conta de rumores de que o Royal Bank of Scotland (RBS) poderia fazer uma oferta de US$ 55 bilhões para assumir seu controle total. A ação do ABN não cessou de subir. Desde setembro do ano passado, a alta é de 17%, com o valor na bolsa aumentando US$ 5 bilhões. Seu valor no mercado é agora de 34 bilhões de euros, em décima-terceira posição na Europa e bem abaixo por exemplo do HSBC (98 bilhões de euros) e do suíço UBS (196 bilhões de euros). O plano de Groenink é elevar o banco a quinto na Europa nos próximos 5 anos a 10 anos, mesmo sem ignorar os riscos no processo de consolidação que continua na cena bancária internacional. Os rumores envolvendo o RBS foram minimizados. Um diretor do ABN AMRO comentou com o Valor que só tinha visto nos últimos tempos um tipo de escocês: o uísque. Por sua vez, indagado se o banco holandês está preparado para afrontar uma tentativa amigável ou não de controle, o presidente Rijkman Groenink, de 55 anos, reagiu: ´´ Ninguém pode automaticamente evitar uma aquisição hostil se o preço é escandalosamente alto. Aí o ABN pode ser adquirido por um comprador estrangeiro. Mas a indústria bancária é muito sadia e muito cautelosa. E considero que as chances de um estrangeiro lançar uma oferta hostil são remotas, porque os riscos são grandes demais´´. Em entrevista ao jornal alemão "Frankfurter Allgemeine Zeitung", o executivo holandês tampouco descartou a possibilidade de uma fusão entre iguais para continuar crescendo. Mas seu porta-voz em Amsterdã tratou de explicar à agência Reuters que as prioridades são expansão dos negócios existentes, aquisições e só em último lugar fusão com algum banco do mesmo porte. Em dezembro, o ABN anunciou planos de demitir 2.850 funcionários, ou 3% do total, para poupar mais de US$ 1 bilhão. Para analistas, não tem jeito: para conseguir melhorar o crescimento nos próximos anos, o banco precisa ter menos custos. Na entrevista ao Valor, o presidente Rijkman Groenink deixou claro que a expansão dos lucros passa pelos mercados emergentes onde está presente. Significa sobretudo Brasil, que representa 11% do faturamento total do grupo holandês. "É o momento correto para estarmos no Brasil", declarou. "A situação macroeconômica é boa, os efeitos da volatilidade vão diminuir, senão desaparecer." Ele declarou-se "muito contente com a maneira como estamos crescendo no Brasil", que é o primeiro mercado fora do mundo industrializado para o banco holandês. ´´O Brasil está contribuindo muito na diversificação dos nossos negócios e, junto com a Ásia (Índia e China), os mercados emergentes poderão representar mais de 25% do total´´, afirmou. O principal executivo do ABN explicou que pretende vender a Real Seguros, do Brasil, mas ao mesmo tempo fazer uma aliança com o comprador. ´´Nossa estratégia é de concentrarmos nos negócios bancários. Precisamos oferecer aos clientes seguros, sem necessariamente ter de controlar esse tipo de negócio´´, disse Groenink. Outra fonte do banco disse que provavelmente o ABN não venderá os 100% da Real Seguros. O banco planeja crescer organicamente no Brasil, mas não exclui novas aquisições no mercado brasileiro. ´´Não estamos procurando, mas também não excluímos nada´´, comentou. Para o executivo do ABN, o banco no Brasil tem muito a desenvolver na área comercial. "Estamos subdesenvolvidos no negócio com as empresas no Brasil e há um crescimento natural nessa área." Nesse contexto, espera manutenção de crescimento de "dois dígitos" nos negócios no Brasil, tanto do lado dos ativos como das "liabilities", que podem crescer no mesmo ritmo dos empréstimos. Rijkman Groenink comentou que o banco no Brasil está gerando suficiente "cash flow" para apoiar os negócios. Mas que, se a subsidiária tiver necessidade, a matriz está pronta a fazer aporte de capital para sustentar o crescimento de duas operações. Entre os planos da matriz, está também chegar a uma solução "de bom senso" ao conflito com acionistas minoritários do Sudameris. O ABN AMRO controla 94,57% da instituição, mas quer ter o controle total. Rijkman Groenink não confirmou informações de que o ABN AMRO planeja reduzir seus 30 grandes centros de informática no mundo em apenas cinco nos próximos dois anos, um dos quais seria no Brasil. "O Brasil é um forte candidato a concentrar operações de TI porque tem talento, educação e competitividade no setor", concluiu.