Título: Carteira de crédito deve crescer mais no Brasil
Autor: Maria Christina Carvalho
Fonte: Valor Econômico, 19/01/2005, Finanças, p. C1

O crescimento econômico e a expansão da renda e do emprego animam o Banco ABN AMRO Real a prever o aumento de 15% a 20% nas operações de crédito do mercado neste ano, apesar do esperado aumento das taxas de juros no primeiro semestre. No ano passado, o crédito com recursos livres cresceu 21,8% até novembro; e para pessoas físicas, 27,7%. No ABN AMRO Real não deverá ser diferente, embora o presidente Fábio Barbosa tenha evitado falar especificamente das operações do banco porque está no período de silêncio que antecede a divulgação do resultado mundial, marcada para 7 de fevereiro. "O banco vem se estruturando há algum tempo para dar crédito", explicou. Em entrevista coletiva, Barbosa afirmou que o ABN AMRO Real espera que a economia brasileira cresça de 3,5% a 3,6% neste ano. O número é inferior aos 5,1% de 2004 mas ele explicou que o importante é a manutenção do crescimento. "É melhor ter um crescimento constante, mesmo que moderado, do que ter os stop and go do passado, que criam incertezas", disse. O crescimento sustentado, acrescentou, anima as empresas a tirarem os projetos da gaveta e a retomada dos investimentos. Com isso, o banco espera a retomada da demanda de crédito por parte das pessoas jurídicas, que foi bastante tímida em 2004. Na área de pessoas físicas e consumo, o banco tem enfatizado o financiamento de automóveis, imóveis, computadores e turismo. Mas não participou da recente onda de cessão de carteira de crédito com desconto em folha que envolveu bancos grandes de um lado, dando funding a bancos pequenos e médios. "Chegamos a avaliar algumas alternativas mas não encontramos nada que fizesse sentido em nosso modelo de análise de performance. Além disso, estamos concentrados na absorção do Sudameris e o banco já tem uma grande operação de crédito consignado", disse o vice-presidente responsável por mercados globais, José Berenguer. Segundo o economista da administradora de recursos de terceiros do ABN AMRO Real, Hugo Penteado, o Brasil passa por uma clássica segunda fase de recuperação econômica, que não experimentava desde a reforma monetária do Plano Real, em que o aumento da renda salarial e do nível de emprego sustentam o crescimento apesar da elevação dos juros. "Se a recuperação estivesse no seu início, seria mais sensível à elevação das taxas", afirmou. A asset do banco prevê que a taxa básica de juros (Selic) vai subir até 18,25% ano, dos atuais 17,75%, para então recuar e fechar o ano entre 15,5% e 16%. Como a recuperação brasileira já está na segunda fase, a reação mais provável do mercado à elevação dos juros é um arrefecimento suave da demanda, necessário segundo Barbosa para conter a inflação: "O governo eleva os juros para desestimular o exagero no consumo, que levaria ao estouro da inflação e uma volta atrás na recuperação. O ideal seria ter juro mais baixo, mas o governo está sendo prudente e preventivo ao elevar os juros gradualmente e não em degraus que, no passado, pegaram as empresas no contrapé". O ABN AMRO Real prevê que a inflação ficará em 5,2% neste ano, muito influenciada pelo impacto da apreciação cambial nos preços. "É o melhor dos mundos", disse Penteado, explicando que a queda do dólar está contribuindo para reduzir a inflação e não está penalizando as exportações. O saldo da balança comercial vai cair, de US$ 33,7 bilhões neste ano para US$ 27 bilhões, prevê o ABN mas "em função do aumento das importações e da redução do crescimento econômico global", disse Penteado. Estudo feito pelo banco apurou que a apreciação do real afeta a competitividade de alguns produtos manufaturados mas favorece as vendas externas de produtos primários. "No nosso modelo, a demanda externa é mais importante do que o câmbio no saldo comercial", explicou. Sustentam ainda o otimismo do ABN AMRO Real a melhora dos fundamentos internos que tornaram o país mais imune aos choques externos que, no passado, abortaram a recuperação da economia.