Título: Arthur Virgílio constrange oposição
Autor: Ulhôa, Raquel
Fonte: Valor Econômico, 21/11/2006, Política, p. A8

A carona de avião dada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), no sábado - na viagem de Três Lagoas (MS), onde participaram do velório do senador Ramez Tebet (PMDB-MS), a Brasília -, causou mal-estar na oposição. A atitude do líder foi criticada por tucanos e pefelistas. A disposição manifestada por Lula de chamar os partidos de oposição para discutir uma agenda de medidas que possibilitem o crescimento do país também foi recebida com restrição. Há quem veja no gesto do presidente um jogo para dividir a oposição.

"Agenda para o país a gente discute pontualmente, aqui no Congresso. Para que chamar a oposição ao Planalto? Para tirar uma foto e faturar, assim como faturou a foto da viagem no avião presidencial?", perguntou o líder do PFL, José Agripino (RN). Segundo ele, se o presidente tiver interesse, deve colocar a base aliada para votar as reformas política e tributária", continuou. Sem citar o parceiro, ele criticou a carona presidencial: "Se eu tivesse uma alternativa, não iria (no avião do presidente), porque política se faz com simbolismos e com atos que não precisam ser explicados".

Sem disfarçar certo constrangimento, o tucano Álvaro Dias (PR) conversou com Virgílio. Sugeriu que o partido se reúna para "afinar o discurso e montar uma estratégia" diante do novo mandato de Lula, para evitar contradições. "Às vezes, um gesto que é normal num processo democrático, soa como adesismo", afirmou. Dias afirma que ele, por exemplo, não viajaria no avião presidencial. "Essa cooptação do governo é inteligente. Não é inteligente da oposição aceitar a cooptação", afirmou. Ele disse não se referir à carona de Virgílio, que considerou uma "coincidência". Para Álvaro Dias, o PSDB não deve aceitar convites de Lula para debater propostas para o país. A discussão, segundo ele, tem que ser feita no Congresso.

Virgílio disse que estava sendo "patrulhado". Recebeu críticas até por e-mail. "Não vou deixar de cumprir meu papel de oposicionista duro... Continuo sendo o homem que sou, não perdi um pedaço meu nem tirei pedaço de ninguém, mas fiquei feliz em restabelecer relações pessoais com o presidente", afirmou.

Virgílio conversou com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso pela manhã sobre a idéia de Lula de criar um conselho de ex-presidentes da República para discutir propostas que ajudem a alavancar o crescimento do país. Segundo o líder, FHC já ouviu de Lula essa idéia antes, quando viajaram a Roma para os funerais do Papa João Paulo II. Mas a conversa não teve continuidade. "Eu disse a ele que, agora, acho que Lula realmente fará isso. Ele (FHC) vai aguardar", afirmou Virgílio.

O líder disse que, na sua opinião, o PSDB não se negará a discutir com o presidente uma agenda de medidas para garantir o crescimento do país, que inclua as reformas necessárias. "O problema é que não tive clareza do que ele quer", disse. Virgílio afirmou que, mesmo na oposição, o partido não pode ser irresponsável.

Essa mesma posição foi defendida pelo governador reeleito de Minas, Aécio Neves, em entrevista em Belo Horizonte: "O que o senador Virgílio quis dizer, é algo natural: nas questões fundamentais ao país, o PSDB não se negará a discuti-las. Não faremos, como disse o presidente Fernando Henrique também nos jornais esse final de semana, a mesma oposição que fez o PT em relação ao seu governo, buscando apenas desgastá-lo. Temos uma responsabilidade enorme para com o país". Para Aécio, cabe ao governo o primeiro gesto.

Virgílio lembrou que os governadores tucanos administram 51% do PIB. Mas rejeitou a possibilidade de participação no governo. "Governo de coalizão, nem pensar", afirmou. Virgílio pretende reunir a bancada do Senado e sugerir ao presidente do PSDB, senador Tasso Jereissati (CE), que reúna a Comissão Executiva Nacional do partido para discutir a proposta de Lula.