Título: Exportações americanas crescem e ajudam a sustentar a economia
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Fonte: Valor Econômico, 21/11/2006, Internacional, p. A9

Os três pilares do crescimento econômico americano neste ano foram os gastos do consumidor, das empresas (em novas construções e equipamentos) e as exportações. Eles deram forte sustentação a uma economia que viu o petróleo a US$ 70 o barril, uma alta dos juros e recessão no setor habitacional. Cada um desses pilares foi crucial, mas a demanda de consumidores e empresas tende a receber mais atenção, e a demanda externa costuma ficar em segundo plano. Não deveria ser assim. À medida que a globalização abre uma série cada vez maior de oportunidades, as exportações americanas estão desempenhando um papel essencial no estímulo generalizado a produção, empregos e lucros.

Basta ver o mais recente relatório sobre o comércio exterior americano. O maior destaque, como de costume, foi o lado da importação na balança. O impacto do petróleo mais barato no total das importações contribuiu para estreitar o desequilíbrio comercial mensal para US$ 64,3 bilhões em setembro, dos US$ 69 bilhões no mês anterior, um dos maiores declínios já registrados. Recebendo menos atenção, as exportações estão a todo vapor, neste ano. As vendas de bens e serviços para o exterior em setembro registraram um sólido crescimento de 0,5% frente a agosto, e alta de 15,8% em relação a um ano atrás.

As exportações de bens, que constituem 70% dos embarques para o exterior, foram particularmente fortes. As exportações reais de bens, que são ajustadas pelas variações no preços, deram um salto de 1,3% em comparação com agosto e cresceram 15,7% em comparação com um ano atrás, na mais rápida taxa de crescimento anual em nove anos. Os avanços foram amplos, espraiados por setores de produtos e regiões geográficas. As exportações para países europeus e os do Pacífico se aceleraram sensivelmente nos últimos 12 meses, e os bens de capital continuam a liderar os progressos.

O enorme impulso que as exportações deram ao crescimento econômico está um pouco oculto nas estatísticas de Produto Interno Bruto (PIB). Isso decorre de a contribuição do comércio exterior para o PIB ser o resultado líqüido de exportações menos importações. No geral, o crescente déficit comercial reduziu crescimento. Mas observemos apenas o lado exportador da balança. Os embarques para o exterior acrescentaram 0,7 ponto percentual taxa de crescimento da economia em 2005, que então foi de 3,2%, e o incentivo foi ainda maior neste ano. De fato, até agora, em 2006, as exportações contribuíram para o crescimento do PIB em igual medida com os gastos de capital das empresas.

Além disso, é preciso notar que as exportações estão respondendo por uma parcela cada vez maior da produção total americana. Após ter caído durante o período de desaquecimento mundial nesta década, a participação na produção total dos bens exportados teve forte crescimento, para um recorde de 17,6% no terceiro trimestre, em alta, quando comparada à baixa marca de 13,7% de três anos atrás.

Essa participação maior é subproduto da globalização, e também é evidente na aceleração do volume do comércio americano (exportações mais importações) nos últimos três anos. Isso também é aparente no crescente percentual dos lucros de companhias americanas provenientes de suas operações no exterior. Durante os mesmos três anos, essa participação das receitas empresariais foi, em média, de 25,3%, em comparação com 18,3% em 1998. Embora não haja dados oficiais, é bastante provável que os lucros relativos às exportações também estejam contribuindo mais para a lucratividade.

Os benefícios da forte demanda externa estão se constituindo numa fonte particularmente importante de sustentação para a economia, neste momento em que o desaquecimento no mercado habitacional dá sua maior mordida no crescimento. A indústria de transformação americana é a principal beneficiária. A demanda interna por bens industrializados caiu, refletindo a retração do setor de construção e os recentes cortes de produção na indústria automobilística. O desaquecimento nessas duas áreas freou a produção industrial e o crescimento do emprego nos últimos meses, mas as exportações ajudaram a manter as fábricas em operação a taxas elevadas de utilização de capacidade.

É quase certo que as exportações continuem a crescer fortemente no ano que vem, e é fácil ver por que. No curtíssimo prazo, por exemplo, o índice de pedidos de exportação encaminhados ao setor industrial, compilado pelo Instituto de Gestão de Suprimentos (ISM, na sigla em inglês), teve um grande aumento em outubro, para seu nível mais alto desde janeiro.

Mais para o futuro, e mais fundamentalmente, vêm-se forças econômicas e financeiras favoráveis capazes de manter as economias de outros países crescendo vigorosamente no ano que vem. Embora as taxas de juro fora dos EUA continuem a subir, especialmente na zona do euro, as condições financeiras mundiais continuam relativamente folgadas e favorecem o crescimento. Tanto na zona do euro como no Japão, por exemplo, as políticas de juros ajustados pela inflação praticadas pelos bancos centrais continuam bastante abaixo das praticadas nos EUA. Além disso, o estreito diferencial entre a rentabilidade de títulos do governo e das empresas indica que os mercados mundiais de crédito vêm pouco risco em emprestar, o que sinaliza um clima favorável à tomada de empréstimos.

O que há de diferente sobre o crescimento fora dos EUA, agora, em comparação com ciclos econômicos anteriores, é que este está sendo puxado mais por demanda interna e menos por exportações, especialmente com destino aos EUA. Essa independência dará ao crescimento estrangeiro mais capacidade de resistência, à medida que a economia americana desacelera. Impulsos econômicos anteriores fora dos EUA, como na Alemanha e no Japão no fim da década de 90, foram abortados exatamente devido à queda no cresci-mento das exportações, e esses países não tinham uma sólida demanda interna em que se apoiar.

Desta vez, embora o crescimento no terceiro trimestre na zona do euro tenha caído para uma taxa anual de 2,1%, após ter mantido uma média vigorosa de 3,5% no primeiro semestre, tanto a Europa como o Japão ainda exibem sólidos setores empresariais, melhorias nos mercados de trabalhos e saudáveis mercados financeiros. O quadro é bastante semelhante em toda a região do Pacífico. Em conseqüência, as exportações americanas para a Europa no terceiro trimestre registram alta de 20,7% nos últimos 12 meses, sendo essa a mais rápida taxa de crescimento anual em mais de uma década. O aumento, considerados todos os países da região do Pacífico, quase dobrou, para 15,2%, de 8,7% no ano passado. Essas duas regiões respondem por cerca de metade de todas as exportações americanas - e outras áreas também exibem forte crescimento.

Além disso, em todo o mundo, as economias importadoras de energia irão beneficiar-se da queda dos preços do petróleo de maneiras que resultarão em fortalecimento ainda maior da demanda interna. A energia mais barata diminuirá os custos de produção, contribuindo para melhorar a lucratividade. O barateamento do petróleo melhorará a confiança de empresas e consumidores e reduzirá a inflação, ampliando substancialmente o poder de compra dos consumidores.

O outro motivo para esperar crescimento adicional das exportações americanas é a desvalorização do dólar. Parece provável que seu declínio persistirá, tendo em vista o ainda crescente déficit comercial americano e a redução do spread entre as taxas de juros de curto prazo nos EUA e em outros países. O spread menor tende a reduzir a atratividade de títulos denominados em dólares.

De seu pico, no início de 2002, até outubro, o dólar real (ponderado pelas trocas comerciais) caiu 14,3%, e continuou caindo em novembro. E, apesar dos resmungos americanos, registrou firme desvalorização frente ao yuan, a moeda chinesa, mesmo com a China ainda engatinhando no rumo de uma maior flexibilidade monetária.

Sem dúvida, a globalização cria tanto desafios como oportunidades. A maior competitividade americana numa economia mundial em crescimento é uma oportunidade que muitos exportadores americanos estão aproveitando. E o momento é especialmente favorável: quando a economia pode aproveitar a sustentação extra. (Tradução de Sergio Blum)