Título: Microsoft costura alianças para crescer na infra-estrutura de clientes
Autor: Rosa, João Luiz
Fonte: Valor Econômico, 21/11/2006, Empresas, p. B1

Não é fácil entender a infra-estrutura de tecnologia da informação (TI) que mantém as empresas em funcionamento, nem a estratégia dos fornecedores desse mercado, em constante mutação. Mas para simplificar, pense em uma escola de samba: a Microsoft sempre impressionou com a comissão de frente, os softwares que aparecem na ponta das redes de computadores das empresas. É o caso do sistema operacional Windows e do pacote Office (Word, Excel, PowerPoint etc.) que aparecem na tela do PC e ficam literalmente na frente do consumidor. Mas, agora, a empresa quer melhorar sua bateria - os servidores e os aplicativos, a parte que determina o ritmo de todas as demais, embora não não tenha muito apelo visual e fique escondida no meio da massa de TI.

Há 17 trimestres consecutivos, a receita dessa divisão cresce dois dígitos na Microsoft. No primeiro trimestre do ano fiscal 2007, encerrado em 30 de setembro, os negócios somaram US$ 2,5 bilhões em vendas globais, o equivalente a um crescimento de 17% em relação ao ano anterior. Para comparar, as divisões responsáveis pelo Windows e pelo Office - as principais fontes de receita da companhia - cresceram 4%, cada, no período.

As expectativas continuam altas. Para o ano fiscal 2007, que termina em junho do ano que vem, a Microsoft prevê que a área crescerá entre 15% e 16%, mais do que todas as outras, excetuando a de entretenimento. Pelas contas da companhia, a diversão eletrônica vai aumentar entre 33% e 46%. Mas é preciso considerar que a receita do segmento ainda não chegou à metade da obtida com servidores e aplicativos - foi US$ 1,03 bilhão no trimestre passado - e o negócio parece bem mais arriscado.

A Microsoft está gastando bilhões de dólares para desafiar, sozinha e abertamente, a Sony e a Nintendo no mundo dos videogames (com seu console Xbox) e a Apple nos tocadores de música digital: na semana passada ela lançou o Zune, sua resposta ao iPod, nos Estados Unidos.

Com os servidores e aplicativos, a história é diferente: a Microsoft não tem que se aventurar na produção de equipamentos - uma área estranha à sua posição de maior empresa de software do mundo -, nem precisa fazer tudo sozinha. Ao contrário, como ela mesma tem demonstrado, sua política de alianças parece infinita.

No início do mês, Steve Ballmer, o executivo-chefe da Microsoft, anunciou um acordo envolvendo um adversário até então considerado mortal: o sistema de código aberto Linux. A aliança vai permitir que um servidor - o computador que administra os recursos de uma rede - rode ao mesmo tempo o sistema Windows e a versão do Linux criada pela Novell.

Na semana passada, Ballmer disse estar disposto a fazer o mesmo com a Red Hat, a maior empresa de Linux do mundo, que passou a enfrentar a competição direta da Oracle. "O Linux é um competidor, mas temos de ouvir nossos clientes", diz Steven Guggenheimer, gerente geral de plataforma de aplicativos da Microsoft. Os usuários têm programas que funcionam sobre cada um dos sistemas, mas não querem manter infra-estruturas duplicadas por causa disso. O acordo é uma tentativa de atender a esse apelo, afirma o executivo.

Com a SAP, a Microsoft tem outro projeto estratégico: o Duet, que praticamente permite ao usuário manejar as funções complexas dos softwares da SAP a partir da face mais amigável do pacote Office. Sob a aliança, além de ambas continuarem a oferecer esses produtos, a SAP também pode vender o banco de dados SQL da Microsoft, numa frente contra um adversário comum: a Oracle, a maior companhia desse segmento. "As parcerias são da natureza da área de aplicativos. Ninguém consegue oferecer tudo sozinho", diz Guggenheimer.

Os bancos de dados são apenas uma das áreas de aplicativos que têm merecido a atenção da Microsoft. Os programas de integração, que permitem a coexistência entre softwares de diferentes fornecedores, e as ferramentas de desenvolvimento, voltadas para profissionais que criam programas para ramos de negócios específicos, também estão entre as prioridades. E aqui, novamente, vale a lei da parceria.

No Brasil, dos 5,8 mil parceiros comerciais da Microsoft, 600 são canais especializados nesses programas e serviços, diz Eduardo Campos de Oliveira, gerente geral da divisão de servidores da Microsoft no país. São essas empresas que abordam os clientes e fornecem produtos e serviços com base na tecnologia da Microsoft. "O mercado cresce bastante no Brasil e estamos buscando novas oportunidades", diz Oliveira.

Um exemplo de como esse ecossistema funciona é o projeto da nota fiscal eletrônica, que vai substituir o sistema tradicional de notas em papel no país. Para fazer a transição na Volkswagen, a Gedas - ex-empresa de TI da fabricante de automóveis - tinha um desafio: combinar os diferentes padrões existentes para preservar esses investimentos. A decisão foi usar o BizTalk, um software de integração da Microsoft. Embora invisível aos usuários, a tecnologia colocou a Microsoft no DNA da montadora.