Título: Expansão do modelo começou nos anos 90
Autor: Boechat, Yan
Fonte: Valor Econômico, 21/11/2006, Empresas, p. B9

AlphaVille é um caso de sucesso raro no mercado imobiliário brasileiro, um setor extremamente fragmentado e marcado por uma competição acirrada entre as milhares de construtoras espalhadas pelo Brasil. Não é comum uma empresa ou mesmo um empreendimento ser unanimidade entre os construtores. Mas AlphaVille é.

A explicação para essa quase condescendente devoção a Renato Albuquerque e Yoshiro Takaoka se encontra no pioneirismo do projeto implementado pelos dois. "Na época, me lembro, todos viam com muitas dúvidas aquela idéia de se construir um condomínio há mais de 20 quilômetros de São Paulo", afirma Sérgio Vieira, vice-presidente da Coelho da Fonseca, uma das grandes imobiliárias de São Paulo. "Mas o que não percebemos - e eles sim - é que a cidade se expandiria rapidamente", diz.

Esse, por certo, foi o grande trunfo de AlphaVille. Mais do que replicar um modelo que já se cristalizava nas grandes cidades americanas, Albuquerque e Takaoka conseguiram, ainda que meio sem querer, traduzir os anseios de exclusividade, segurança e status que tomava conta de uma parcela crescente da população da metrópole em que se transformava São Paulo.

Até a morte de Takaoka, em 94, AlphaVille estava restrita à Barueri. A marca já era famosa e freqüentava às paginas dos jornais e os programas de TV como uma opulenta ilha de riqueza na imensidão miserável do Brasil. Aos poucos a economia se descentralizava e as bases estavam prontas para a expansão.

Albuquerque comprou a parte de Takaoka, fechou a antiga empresa e fundou a AlphaVille Urbanismo, em sociedade com o empresário português Nuno Lopes Alves. Começava ali uma nova fase. Rapidamente o modelo foi sendo transferido para outras regiões do país, principalmente onde havia uma classe média alta forte, que podia pagar em média R$ 250 mil só pelo terreno onde iriam construir suas imaginárias Xanadus.

Em poucos anos AlphaVille estava disponível para quem vivia em Campinas, Belo Horizonte, Goiânia, Porto Alegre, Maringá, Salvador e Fortaleza. As vendas cresceram, a marca se solidificou ainda mais e AlphaVille, enfim, virou uma empresa sólida nacionalmente, algo raro no mercado imobiliário brasileiro, que, ainda hoje, é essencialmente local.

"O grande mérito desse negócio foi entender como as cidades estavam crescendo e quais seriam os caminhos urbanos que tomariam", afirma Cláudio Bernardi, vice-presidente do Secovi-SP. "E foi isso que fizeram, mesmo correndo um risco enorme, porque pouca gente achava que aquilo ia dar certo, mantiveram a aposta e acertaram a mão", diz o executivo. A opinião de Bernardi é compartilhada pelo mercado como um todo.

Poucos apontam os erros e defeitos de Albuquerque. Com exceção dos construtores dos estados onde ele chegou recentemente, terra-planando os concorrentes locais. "A figura simpática dele não condiz com agressividade com que eles estão se expandindo, não respeitam os empreendedores locais", afirma um executivo de uma grande imobiliária nordestina.

Críticas mesmo só em relação aos estilo de vida segregador que AlphaVille ajudou a solidificar ao longos desses 30 anos Brasil afora. Para Renato Albuquerque, os condomínios fortemente fechados são fruto da inoperância do Estado em distribuir renda. Mas concorda que as coisas as vezes passam do ponto. Quando os moradores de AlphaVille tentaram a emancipação de Barueri, uma cidade que depende do empreendimento, foi contra. "Já temos tudo, porque tirar o pouco que eles têm? Há, de fato, muito egoísmo aqui." (YB)