Título: Expansão da Gerdau enfrenta coalizão global de sindicatos
Autor: Bueno, Sérgio
Fonte: Valor Econômico, 21/11/2006, Empresas, p. B10

O sucessor do empresário Jorge Gerdau Johannpeter na presidência executiva do grupo Gerdau a partir de 2007 não terá que lidar apenas com o processo de consolidação mundial do setor. Os desafios impostos pela expansão global da empresa nos últimos anos passaram a incluir a crescente organização também do lado dos sindicatos dos trabalhadores nas usinas que opera em nove países.

A aproximação dos sindicalistas brasileiros, americanos, canadenses, uruguaios, argentinos, chilenos, peruanos, colombianos e espanhóis já levou à criação do Comitê Mundial da Gerdau, no terceiro encontro internacional dos trabalhadores da empresa, em Porto Alegre. O próximo passo é convencer o grupo a assinar um "acordo marco" com a Federação Internacional dos Metalúrgicos sobre aspectos globais da relação com os funcionários, como o direito à organização sindical e o respeito às negociações coletivas.

"Não se trata de negociar salários em escala mundial, mas de estabelecer um patamar mínimo de relacionamento que não se restrinja ao código de ética definido unilateralmente pela empresa", explicou o secretário geral da Confederação Nacional dos Metalúrgicos da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Fernando Lopes.

Segundo Lopes, esse acordo é reconhecido pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) e seria "inadmissível" o processo de sucessão no grupo brasileiro não incluir o "avanço" nas relações sindicais. Hoje apenas 14 empresas globais, todas européias, firmaram acordos deste tipo com a federação dos metalúrgicos, entre elas a Volkswagen, Renault e Arcelor.

A Gerdau informou por meio de nota entender "que as negociações sindicais são conduzidas em âmbito local por profissionais locais das empresas Gerdau". Disse ainda que segue as "melhores práticas internacionais em relações trabalhistas", com base nas "leis, regras e particularidades de cada unidade, região e país" e considera que o debate entre líderes sindicais é parte do "livre exercício da democracia".

Lopes, que é funcionário da Gerdau Usiba, na Bahia, diz que os trabalhadores também têm o direito de estabelecer uma "política corporativa" global, justo quando a Gerdau busca acentuado crescimento no mundo. Ontem, o conglomerado anunciou que a espanhola Sidenor, da qual detém 40% do controle, concluiu o acordo com a CIE Automotive para adquirir 100% da GSB Acero, que produz 200 mil toneladas de aços especiais por ano, por ? 111,5 milhões mais uma dívida de ? 11 milhões.

No fim do encontro de Porto Alegre, os sindicalistas dos nove países aprovaram ainda um documento a ser enviado ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, contrário à eventual indicação de Jorge Gerdau para o ministério. O problema, segundo esses integrantes, é que a Gerdau tem práticas muito distintas no relacionamento com os trabalhadores de diferentes países, em geral observando as mínimas exigências legais de cada um. Em alguns casos, o comportamento é abertamente "anti-sindical", seja porque a empresa não reconhece a legitimidade das entidades ou porque tenta desgastá-las perante os empregados. Lopes disse que a Gerdau foi convidada a enviar um representante ao evento.

As relações mais tensas, disseram, ocorrem na Colômbia, onde em 2005 o grupo concluiu a aquisição de Sidelpa e Diaco, e nos Estados Unidos, aonde chegou em 1999 ao comprar a Ameristeel. Nesses países, afirmou Lopes, a legislação é mais frouxa em relação aos direitos trabalhistas, ao contrário da Espanha, onde a lei torna "praticamente impossível" a supressão de conquistas, disse Francisco Miguel Antunes, da União Geral dos Trabalhadores (UGT).

Nos EUA, a Gerdau já recorreu a um locaute na usina de Beaumont em 2005 devido à falta de acordo para a renovação do contrato coletivo de trabalho com a representação sindical local e tem sete negociações em andamento, informou Melinda Newhouse, da United Steel Workers (USW). Para Melinda, uma estratégia do grupo é nomear advogados contratados e não os gestores das siderúrgicas para negociar, com a finalidade de alongar indefinidamente as discussões e desgastar a relação entre os trabalhadores e seus representantes.

"Na Colômbia, a Gerdau cancelou licenças para dirigentes sindicais e há dois meses proibiu o sindicato dos metalúrgicos de repassar informações aos empregados nos restaurantes das fábricas, disse o presidente da entidade, Heber Ruiz. "É uma atitude anti-sindical", afirmou. Segundo ele, a Gerdau recebeu apenas uma vez o sindicato.