Título: País tem superávit de US$ 4,68 bi
Autor: Izaguirre, Mônica
Fonte: Valor Econômico, 21/11/2006, Finanças, p. C1

Mesmo com a compra da Inco pela Vale do Rio Doce, o Brasil registrou superávit de US$ 4,68 bilhões no conjunto de suas transações financeiras e correntes com o resto do mundo, no mês passado. Como foi financiado por crédito estrangeiro, o investimento da companhia brasileira na aquisição da empresa canadense não gerou impacto líquido no balanço de pagamentos externos do país. Por outro lado, por causa desse financiamento, a dívida externa brasileira deu, num único mês, um salto de US$ 13,7 bilhões, cerca de 8,5%, e fechou, em outubro, em US$ 174,56 bilhões.

O número foi divulgado ontem pelo Departamento Econômico do Banco Central (Depec) e supera inclusive o de final de 2005, quando a dívida estava em US$ 169,45 bilhões. Como proporção do Produto Interno Bruto (PIB) nominal estimado pelo BC, em dólar, para 12 meses, o saldo subiu de setembro para outubro, saindo de 18% para 19,3%, mas manteve-se abaixo do de dezembro (21,3% do PIB).

Altamir Lopes, chefe do Depec, não vê problema nesse movimento mais recente. Se, de um lado, o país aumentou seu nível de endividamento, de outro, também ampliou ativos no exterior. Portanto, destaca ele, embora tenha impactado a dívida, a operação da Vale não provocou elevação do passivo externo líquido brasileiro - cuja última posição conhecida é a de março de 2006, US$ 387, 67 bilhões.

Apesar da forte elevação no mês, a dívida externa brasileira como proporção do PIB ainda está muito longe do que era, por exemplo, no final de 2002 (45,9%). Outro aspecto importante, na visão do BC, é que a parte de responsabilidade do setor público, que já tinha recuado de US$ 100,28 bilhões para US$ 88,5 bilhões nos primeiros nove meses de 2006, seguiu em queda, fechando outubro em US$ 88,26 bilhões. Se for desconsiderada a parcela dos bancos estatais, que captam para repasse ao setor privado dentro do país, a dívida externa pública era ainda menor na mesma data: US$ 74,658 bilhões.

Olhando as contas externas sob o ponto de vista do fluxo (balanço de pagamentos), o BC constatou que, dos R$ 4,68 bilhões de superávit verificados no mês passado, só US$ 1,526 bilhão resultaram de transações correntes (comércio, serviços, rendas e transferências unilaterais). Todo o resto, US$ 3,199 bilhões, foi resultado do movimento de capitais. Contribuíram para essa cifra os investimentos em carteira (inclui ações, bônus e outros papéis) , cujo fluxo líquido alcançou US$ 2,799 bilhões positivos. Só os investimentos estrangeiros em ações garantiram entrada de US$ 2,24 bilhões.

O resultado da conta de transações correntes em outubro ficou abaixo da projetada pelo BC, que esperava, para outubro, US$ 2,7 bilhões. Principalmente o desempenho da conta de comércio, que registrou saldo de US$ 3,916 bilhões no mês, veio abaixo da expectativa. Mesmo abaixo do esperado, no entanto, o superávit na conta de transações correntes em outubro superou o de igual mês de 2005 (US$ 879 milhões).

No acumulado de dez meses, o balanço de pagamentos externo acusou superávit de US$ 23,15 bilhões, dos quais US$ 11,66 bilhões em transações correntes. Em igual período de 2005, quando o fluxo líquido de capitais foi negativo, foi o superávit dessas transações, então de US$ 11,89 bilhões, que garantiu fluxo positivo no balanço de pagamentos como um todo (US$ 10,63 bilhões).

O superávit em conta corrente não evoluiu, na comparação dos dez primeiros meses de cada ano, apesar do aumento do saldo comercial. Um dos motivos foi a elevação dos gastos líquidos com serviços de transportes, que saíram de US$ 1,479 bilhão para US$ 2,423 bilhões. Além do aumento das importações, que afeta os gastos internacionais do país com frete, ajuda a explicar essa elevação a saída da Varig de rotas internacionais. Principalmente por isso, a subconta de despesas líquidas internacionais com transporte aéreo subiu cerca de 53% em relação a igual período de 2005, alcançando US$ 1,53 bilhão nos primeiros dez meses do ano em curso.

As remessas de lucro e dividendos ao exterior também ajudam a explicar a ligeira queda do superávit em transações correntes na comparação dos mesmos períodos. Já descontado o que o país recebeu, essas saídas subiram de US$ 9,72 bilhões para US$ 12,51 bilhões, refletindo aumento de lucro das multinacionais. O aumento só não foi maior porque, do lado da receita, também houve crescimento, de US$ 542 milhões para US$ 899 milhões, em função do maior volume de investimentos brasileiros no exterior. A compra da Inco pela Vale tende a reforçar ainda mais esse fluxo no futuro.

Fruto da redução da dívida externa, os pagamentos líquidos de juros ao exterior, que também entram na conta de transações correntes, diminuíram, saindo de US$ 11,5 bilhões para US$ 9,45 bilhões, ainda considerados os fluxos até outubro de cada ano.

Em novembro, até ontem, o BC já contabilizou gastos líquidos de US$ 457 milhões com remessas de lucros e dividendos e outros US$ 794 milhões com juros. Ainda assim, graças à balança comercial, a autoridade monetária projeta para este mês superávit de US$ 1,7 bilhão nas transações correntes do país com o exterior.