Título: Alta da bolsa consolida a liderança da renda variável
Autor: Camba, Daniele
Fonte: Valor Econômico, 21/11/2006, EU & Investimentos, p. D2

O bom desempenho da bolsa, que começou em outubro e se mantém neste mês, consolidou os fundos de ações na liderança das aplicações no ano. Dados do site Fortuna mostram que só neste mês, até o dia 16, as carteiras de renda variável registram ganho médio de 4,91%. Elas perdem apenas para os fundos de privatização de Petrobras e Vale do Rio Doce que, mesmo com a queda dessas ações na semana passada, acumulam retorno de 6,33%. No ano, os fundos de ações apresentam ganhos acumulados de 24,14%, mais de dez pontos percentuais acima de investimentos conservadores como os fundos de renda fixa e DI.

Mas para quem olhou esses números e se entusiasmou em investir em bolsa, os analistas alertam que é importante ter cautela. Como as bolsas no mundo todo estão próximas de suas máximas históricas, o que se espera é que em algum momento os preços das ações possam sofrer uma correção mais profunda.

"A Bovespa deve completar o quarto ano consecutivo de alta e, quanto mais valorizadas as ações, maiores as chances de caírem", diz o administrador de investimentos, Fábio Colombo. Ele acredita que uma queda do Índice Bovespa entre 10% e 15% nos próximos meses é perfeitamente factível. Nesse cenário, Colombo recomenda a título de diversificação aplicar em bolsa entre 8% e 10% do patrimônio total do investidor e não os 20% que habitualmente indica.

Apesar do bom desempenho, os fundos de ações ainda não conseguiram atrair os investidores. No ano, essas carteiras captaram apenas R$ 1,9 bilhão, até dia 16. O ingresso de recursos é muito menor ao captado por fundos de renda fixa e multimercados, por exemplo, que registram no ano entradas R$ 13,2 bilhões e R$ 17,2 bilhões, respectivamente.

Dentro desse cenário de preços já bastante valorizados, a melhor estratégia em bolsa é selecionar as ações de empresas ou setores com fundamentos que justifiquem novas altas. "Mais do que nunca, agora é hora de investir em fundos com gestão ativa para fugir das quedas que alguns setores que fazem parte dos índices possam vir a ter", diz o chefe de análise da corretora Geração Futuro, Wagner Salaverry.

Entre os papéis com boas perspectivas, segundo Salaverry, estão os de siderurgia, petróleo e mineração (leia-se Petrobras e Vale). As siderúrgicas ainda possuem múltiplos baixos comparados a de outros setores. No caso da Petrobras, a empresa ganha mesmo com o preço do petróleo caindo para a casa dos US$ 45 ou US$ 50, pois o valor ainda é considerado positivo para o resultado da companhia. Já a Vale deve se beneficiar com o reajuste do minério de ferro entre 5% e 10% em 2007, diz o analista da Geração, Luiz Alberto Binz. Além dos metais não-ferrosos, como cobre e níquel, que, apesar da queda, devem continuar em níveis superiores aos preços históricos.

O relatório do Fortuna também mostra que os fundos de renda fixa possuem uma baixa exposição aos papéis prefixados, apesar da parcela de LTNs nessas carteiras ter crescido de 5% do patrimônio em junho de 2003, para 38% em outubro deste ano. Para se ter uma idéia, a volatilidade desses fundos é apenas 13% da oscilação do Índice de Renda Fixa do Mercado (IRF-M) - calculado pela Andima e que reflete a variação do preço dos títulos pré.

Isso ocorre porque os gestores trocam boa parte dos papéis prefixados por títulos pós, em operações conhecidas como "swap". "Isso acaba tirando a característica principal desses fundos que é prefixar uma taxa de retorno, ganhando com a queda dos juros", diz o sócio do Fortuna, Marcelo D'Agosto. Ele acredita que o principal motivo de o gestor ter essa estratégia é a aversão que o investidor ainda tem a oscilações. Os papéis pré são mais arriscados que os pós.