Título: PMDB independente levará apoio ao Planalto
Autor: Costa, Raymundo
Fonte: Valor Econômico, 20/11/2006, Política, p. A6

Os governadores eleitos do Paraná, Santa Catarina e Mato Grosso do Sul passaram uma sexta-feira agradável em Florianópolis (SC). Aproveitaram as instalações do resort Costão do Santinho, no norte da ilha, para relaxar. Almoçaram anchova e camarão à beira-mar, no Rancho do Pescador, acompanhados de um bom vinho chardonnay. No banquete, já discutiam o posicionamento pró-governo, que seria anunciado horas mais tarde, devido ao evidente isolamento do grupo, que pretendia "marcar uma posição de independência" do PMDB em relação ao governo Lula - quatro dos sete governadores eleitos pelo partido, nas últimas eleições, simplesmente decidiram não comparecer ao encontro. "Não dá para fazer omelete sem quebrar os ovos", explicou um dos ausentes.

A decisão dos governadores Roberto Requião (PR), Luiz Henrique da Silveira (SC) e André Puccinelli (MS) de dar "suporte à governabilidade" do presidente Lula foi avaliada como o melhor caminho para os pemedebistas tentarem a unificação do partido, em uma relação institucional com o governo Lula. O apoio "atendia a uma postulação feita pelo próprio presidente Lula e por outros agentes do PMDB", nas palavras de Michel Temer, presidente do PMDB, também presente no encontro em Florianópolis. Temer disse aos governadores que sente "sinceridade" na proposta de Lula de manter uma relação institucional com o partido.

Foi Temer quem deu o tom da reunião, que iniciou esvaziada com a ausência de quatro convidados: Paulo Hartung (ES), Sérgio Cabral (RJ), Marcelo Miranda (TO), além de Eduardo Braga (AM). Esses defendiam um "território neutro para o encontro", e já haviam apoiado Lula na eleição. Requião ironizou: "território neutro", segundo ele, "só se o partido alugasse um encouraçado e se reunisse a 200 milhas da costa". O presidente do partido ficou encarregado de levar a carta de apoio dos governadores ao presidente Lula, na audiência marcada para quarta-feira. Temer convidou o presidente do Senado, Renan Calheiros, que operou para o esvaziamento da reunião, a ir junto com ele ao Palácio do Planalto. "Você conhece o caminho", respondeu Renan, sem passar recibo ao "tapa com luvas de pelica" de Temer, nas palavras de um assessor. Mas ficaram de conversar antes do encontro com Lula no Planalto.

Com já boa parte dos seus pares manifestando apoio ao governo Lula, aqueles que se dispunham a declarar independência decidiram recuar, como era o caso de Silveira, governador de Santa Catarina. O governador catarinense, que apoiou Geraldo Alckmin (PSDB) nas eleições, e foi promotor do encontro, disse que deixou de lado seu posicionamento particular em prol do PMDB. "Não quero que o PMDB seja negociado na bandeja, com um ou dois líderes". Requião preferiu dizer que "não houve consenso, mas sim uma unanimidade". O governador reeleito do Paraná já havia apoiado Lula na eleição. Na sua exposição aos governadores, Temer defendeu a aliança com o governo porque não existia só a pressão do Planalto, mas já havia o posicionamento de grande parte do próprio PMDB.

"Não estamos reivindicando cargos, estamos deixando claro que estamos à disposição", disse Requião. Segundo o governador, não havia "objetivos ocultos" na reunião.

Puccinelli, que defende que Renan acompanhe Temer no encontro com o governo federal, e que outros líderes do partido também compareçam, disse que o documento foi uma declaração pública da vontade de unificação do partido. "Queremos mostrar com essa atitude que é um projeto de governo que nos move e não de poder".

Antes da reunião e do comunicado oficial para a imprensa, no qual evitaram comentar as ausências, os ânimos, no entanto, eram um pouco diferentes. Puccinelli disse que não estava em jogo acordo ou adesão ao governo Lula. "Chamo de bom senso e de parceria. Quem aderiu foi José Sarney porque tem que nomear a filha". Puccinelli defendia a renegociação de dívidas dos Estados junto ao governo federal. "Os 10 estados que mais devem ao governo federal quebrariam se fossem empresas privadas".

(Colaborou Raymundo Costa, de Brasília)