Título: UE abre ofensiva contra a dependência de energia
Autor: White, Aoife
Fonte: Valor Econômico, 20/11/2006, Internacional, p. A7

A União Européia vai fazer nesta semana sua maior ofensiva diplomática aberta na tentativa de garantir seu suprimento de energia e de diminuir sua dependência em relação à Rússia. Autoridades européias e russas se encontrarão em Moscou na sexta-feira para discutir a segurança energética, enquanto enviados da UE partem para negociar novos acordos com outros exportadores de gás natural e de petróleo.

A demanda de energia na Europa vem crescendo, enquanto sua produção própria de gás e petróleo no mar do Norte diminui e os preços internacionais continuam em alta. Diante da perspectiva de ter de importar 70% de sua energia nos próximos 15 anos, a UE pretende melhorar suas relações com fornecedores "mais confiáveis", enquanto procura novos parceiros e novas rotas.

Os europeus estão ansiosos para melhorar seus laços com a Rússia, país responsável por cerca de 25% do petróleo e 40% do gás natural importados pelos países da UE. Mas eles podem ser forçados a diminuir suas expectativas, já que Moscou teima em incluir novas regras de comércio de energia na nova parceria estratégica que está sendo discutida. Essas regras assegurariam exclusivamente para as companhias russas a exploração das maiores e mais lucrativas reservas de gás e petróleo do país.

A não ser que Moscou mude o tom, a Polônia já ameaçou vetar o início das negociações com a Rússia. A Finlândia, que está na presidência rotativa da UE, prometeu tentar demover os poloneses desse intento.

Por outro lado, a UE vai tentar se aproximar de outros fornecedores importantes de energia. Hoje e amanhã, uma grande conferência em Bruxelas vai reunir ministros europeus com autoridades da Ucrânia, da Nigéria, do Azerbaijão e da Noruega, além de executivos de empresas de energia, como Gazprom, E.On Ruhrgas, Royal Dutch Shell e BP.

É a primeira vez que a UE se coloca como a representante dos europeus no que se refere a questões de energia, assumindo os esforços individuais de seus 25 membros.

Mesmo assim, os líderes europeus ainda terão de decidir, em março, que poderes darão à Comissão Européia para que negocie em seus nomes. A Comissão diz que há grandes vantagens em assumir a frente da política energética de todo o bloco.

"Como uma união, somos um grande cliente para os fornecedores; como consumidores, temos um grande poder de negociação", disse a comissária de Relações Exteriores, Benita Ferrero-Waldner. "Temos de garantir o trabalho conjunto para que consigamos uma negociação melhor e para que asseguremos o fornecimento de energia para todos os europeus", disse a comissária.

Para tentar assegurar esse fornecimento, a Comissão planeja aumentar as relações comerciais com outros fornecedores e transportadores de energia. O comissário de Energia da UE, Andris Piebalgs, se encontra hoje com autoridades ucranianas e com o ministro de Petróleo do Egito.

Ao mesmo tempo, a UE vai iniciar negociações de comércio e investimento com o Iraque.

Mas a Europa vai ter de prestar atenção para problemas mais domésticos: combater os entraves de eficiência em seus vários mercados de energia nacionais; reduzir o consumo; e desenvolver energias alternativas.

Os ministros de Energia da UE se encontrarão na quinta para discutir uma série de medidas visando cortar o consumo de energia em até 14% dos patamares atuais até 2020.