Título: Surpreso, bilionário indiano fica mudo
Autor: Nakamura, Patricia e Ribeiro, Ivo
Fonte: Valor Econômico, 20/11/2006, Empresas, p. B5

Quando recebeu a notícia, Ratan Tata ficou mudo e não conseguia desviar os olhos do papel. Foi durante uma visita ao jornal "The Times" que o presidente do conselho do grupo Tata ficou sabendo da proposta de compra feita à Corus pela brasileira CSN. De acordo com a edição de sábado do jornal londrino, ele demorou algum tempo antes de recobrar o fôlego.

"Interessante", teria murmurado finalmente, e parou de relatar os planos de integração entre as duas companhias - entre eles a exportação de aço britânico para a Ásia e demissão de funcionários.

A oferta de 4 bilhões de libras do clã Tata é a maior já realizada por uma companhia indiana no exterior, e reverte o caminho corporativo traçado entre Grã-Bretanha e Índia. Hoje, o grupo Tata é um conglomerado com 96 companhias, que vão desde montadoras de veículos a serviços de consultoria passando por TV por assinatura.

O braço siderúrgico, a Tata Steel, é o 56ª maior do mundo. Em 2005, fabricou 4,4 milhões de toneladas de aço. O império indiano fechou o ano passado com receitas que beiram os US$ 18 bilhões. Nascido em Mumbai em 1937, o engenheiro e arquiteto Ratan Tata é um dos homens mais ricos do país.

Segundo o relato do "The Times", ficou evidente que a direção da Corus não havia feito contato com o bilionário indiano para avisá-los sobre a oferta rival. Entretanto, Ratan Tata checava insistentemente o celular em busca de ligações perdidas. Uma delas era de Jim Leng, presidente do conselho da siderúrgica britânica.

O executivo chegou a alegar que não tinha um plano de contingenciamento para realizar uma contra-proposta. "A Corus disse que isso (uma oferta rival) não deveria acontecer". Apesar do choque, Ratan Tata permaneceu calmo e bem-humorado e se retirou da redação do Times para pegar o vôo de volta para Índia. Antes, disse ao jornal londrino que precisava se reunir com a direção da Corus. (PN)