Título: Crédito imobiliário cresce com mais força no interior do Brasil
Autor: Ribeiro, Alex
Fonte: Valor Econômico, 20/11/2006, Finanças, p. C1

O crédito à habitação, ao mesmo tempo em que se expande fortemente, vem assumindo uma nova feição nos últimos anos: está chegando cada vez mais ao interior do país e às camadas de renda mais baixa da população. A Caixa Econômica Federal, que responde por cerca de 70% dos R$ 19 bilhões que devem ser aplicados em financiamentos habitacional pelos bancos neste ano, fechava operações em 1.936 municípios há dez anos. Neste ano, os empréstimos chegam a 4.592 municípios do Brasil.

Uma dessas localidades é Constantina, no Rio Grande do Sul, onde falta mão-de-obra para construção civil e estão sendo feitos novos investimentos em setores como a produção de tijolos.

Os dados reunidos pelas 55 gerências regionais da Caixa mostram que, entre aquelas localizadas no interior, o volume de operações cresceu o equivalente a três vezes o das capitais. "Até agora, havia uma concentração de financiamentos nas regiões Sul e Sudeste e agora, cada vez mais, deveremos estar preparados para atender à demanda no resto do país", afirma o presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção Civil (Cbic), Paulo Simão. "Outra tendência importante é o crescimento do mercado de imóveis entre R$ 40 mil e R$ 100 mil."

Também estão crescendo os financiamentos para a população de renda ainda mais baixa. Nos empréstimos com recursos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), que são fortemente subsidiados, 51% dos recursos iam para a população com renda até cinco salários mínimos; hoje, esse percentual é de 76%. As estimativas são de que essa faixa de renda concentre 93% do déficit habitacional do país.

Esse crescimento ocorreu sobre um bolo de recursos que se expandiu fortemente. O volume de empréstimos com recursos do FGTS, que em 2004 representava apenas R$ 4,5 bilhões, deverá chegara R$ 9 bilhões em 2006.

Dois fatores contribuíram para que as faixas de baixa renda acessassem mais recursos do FGTS. Um deles foi o renascimento do crédito com recursos da caderneta de poupança. Com mais recursos disponíveis, a classe média passou a competir menos pelos recursos do FGTS. "Antes, a classe média tinha menos recursos à disposição, e acabava por se apropriar dos subsídios, que deveriam ir para a população de baixa renda", diz Márcia Kumer, diretora de desenvolvimento urbano da Caixa.

Outro fator que contribuiu para a disponibilidade de crédito para a baixa renda foi a chamada resolução 460 do Conselho Curador do FGTS, que mudou a forma como os subsídios são distribuídos. Até 2004, as famílias de baixa renda levavam apenas 0,7% dos subsídios e, em 2006, passaram a levar 33,4%. Paralelamente, houve o aumento dos subsídios, que passaram de R$ 361 milhões para R$ 1,83 bilhão.