Título: Ganho setorial é muito desigual e tem diferentes composições
Autor: Maia, Samantha e Salgado, Raquel
Fonte: Valor Econômico, 17/11/2006, Brasil, p. A3

Os ganhos de produtividade têm sido muito díspares setorialmente e também trazem perfis muito diferentes. Entre os 17 setores para os quais o IBGE mantém pesquisas compatíveis de produção e emprego, 12 elevaram a produtividade (em índices que variam de 0,18% a 10,8%) e cinco registraram queda na eficiência produtiva ao longo deste ano, incluindo o setor de refino de petróleo, com um "tombo" de 10,2% neste indicador. Neste caso, a queda é explicada por uma aumento muito acelerado das horas trabalhadas (14,5%) e de uma produção bem menos intensa (2,9%) até setembro.

A indústria têxtil e do fumo são algumas das que têm produzido mais com menor número de horas pagas e, por isso, apresentam número vigorosos na produtividade. Entre janeiro e setembro deste ano, na comparação com igual período do ano passado, o setor têxtil teve um ganho de 3,6% na produtividade, acima dos 2,7% da média nacional. Isso foi conseguido com uma alta de 2% na produção e um recuo de 1,5% nas horas pagas. Já o ramo do fumo produziu 4,5% mais neste ano, com um uso 5,7% menor de horas na produção.

A indústria calçadista também teve ganhos de produtividade (4,85% até setembro), mas com um movimento diferente e mais negativo: queda de 7,9% nas horas pagas e queda de 3,52% na produção.

O economista da LCA Consultores, Fábio Romão, está decepcionado com o desempenho da indústria em 2006. No começo do ano, ele esperava que esse setor abrisse 300 mil postos de trabalho com carteira assinada. Até agora, pelos dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), foram abertas 308 mil vagas no ramo. Porém, como o final de ano é um período de demissão na indústria, Romão revisou sua estimativa para 250 mil postos em 2006.

Ele acredita que apesar do aumento da renda dos trabalhadores e dos impulsos extras dados pelo reajuste do salário mínimo e do programa Bolsa Família, as importações estão roubando o espaço dos produtos nacionais, o que acaba por dificultar a vida da indústria doméstica. Por conta disso, o crescimento do setor tem sido bastante concentrado e heterogêneo.

Fernando Monteiro, economista-chefe da corretora Convenção, acredita que o aumento de 2,7% da produtividade na indústria de janeiro a setembro deste ano é cíclico e por isso não deve ser sustentável. "A produtividade vem caindo e crescendo ano a ano. Crescer agora é continuar esse ciclo, não é um movimento estrutural."

Para o economista, a alta no indicador pode estar ligada à utilização da capacidade ociosa da mão-de-obra, por isso o aumento de produção não vem acompanhado de contratações. "Como há ociosidade, as empresas conseguem aumentar a produção com a mão-de-obra disponível", diz. Dessa forma, pode estar havendo uma redução da ociosidade do fator trabalho.

O gerente executivo de políticas econômicas da Confederação Nacional das Indústrias (CNI), Flávio Castelo Branco, diz estar surpreso com a queda de emprego registrada pelo IBGE. O levantamento da CNI mostrou aumento de 1,73% das ocupações no mesmo período, e de 1,05% das horas trabalhadas.

Se o cálculo da produtividade for feito misturando o dado de produção do IBGE e o de horas trabalhadas na produção da série da CNI, o aumento acumulado no ano cai de 2,7% para 1,6%.

Para Castelo Branco, esse não será um ano de grande produtividade porque as empresas investiram pouco, e o emprego continua crescendo. "Esse ano está com crescimento baixo e um terço das empresas consultadas não completaram seus planos de investimentos", diz o economista. (RS e SM)