Título: PMDB negocia cinco ministérios
Autor: Costa, Raymundo e Vilella, Janaina
Fonte: Valor Econômico, 17/11/2006, Política, p. A8

O PMDB negocia com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva a ocupação de cinco ministérios, em troca de apoio "institucional" no Congresso. Na lista pemedebista não consta o Ministério da Justiça, para o qual Lula gostaria de levar o ex-presidente do Supremo Tribunal Federal Nelson Jobim, na hipótese de falhar mais um apelo que pretende fazer para Márcio Thomaz Bastos permanecer no cargo. O próprio Jobim já teria feito chegar a Lula a informação de que pode ajudar o governo na condição de conselheiro, mas que não tem a intenção de integrar o ministério.

Os ministérios pedidos pelo PMDB a Lula são os três que detém atualmente - Minas e Energia, Comunicação e Saúde -, mais as Pastas dos Transportes e da Integração Nacional, as quais já ocupou no governo Fernando Henrique Cardoso. Com esses cinco postos seria possível atender as diversas facções do partido. Quando a proposta foi feita, Lula teria respondido: "Tudo é possível". Mas depois que o PT passou a pressionar para manter seu espaço no governo os pemedebistas passaram a desconfiar que Lula possa ser tão generoso. Além disso, Ciro Gomes entrou no páreo para a Saúde.

O grande trunfo do PMDB é a presidência da Câmara, cargo para o qual o partido ganhou o direito de indicar ao eleger a maior bancada de deputados. Os governistas podem abrir mão do posto em favor do deputado Aldo Rebelo, como quer Lula, se tiverem a compensação que julgarem justa no governo. Os deputados Geddel Vieira Lima (BA) e Eunício Oliveira (CE) lançaram suas candidaturas ao cargo para se credenciarem na negociação do ministério.

Com os cinco postos e as estatais vinculadas, os pemedebistas acreditam que poderiam acomodar as várias tendências. O senador José Sarney (AP), por exemplo, poderia indicar a filha Roseana para o Ministério das Minas e Energia e deixar o atual ministro, Silas Rondeau, na presidência da Eletrobrás. A nomeação do deputado Geddel Vieira Lima atende a seção do Rio Grande do Sul, uma das alas que fizeram oposição a Lula no primeiro mandato. Ontem, o deputado Eliseu Padilha (RS) classificou de "elogiável" a intenção de Lula de abrir uma negociação "institucional" com o PMDB. "Há condições de se estabelecer um pacto, com algumas limitações, mas há", disse Padilha.

As restrições à negociação "institucional" são do grupo que apoiou Lula no primeiro mandato, pois ela implica dar a condução das conversas ao presidente do partido, Michel Temer. O grupo trabalhou para esvaziar a reunião de governadores do PMDB, hoje e amanhã, em Florianópolis (SC). Participarão apenas os governadores do Sul (Roberto Requião deve aproveitar a oportunidade para se lançar pré-candidato a presidente) e o próprio Temer. Sérgio Cabral (RJ), Paulo Hartung (ES), Eduardo Braga (AM) e Marcelo Miranda (TO) não irão a Florianópolis. É uma derrota para Temer, que esperava sair da reunião com um mandato para negociar "institucionalmente", o que, aliás, é do interesse também dos governadores. Mas a reunião não terá um tom anti-Lula.

No Rio, Sérgio Cabral justificou sua decisão. Disse que tinha "um enorme carinho" pelo governador reeleito de Santa Catarina, Luiz Henrique da Silveira, mas enfatizou que a reunião deveria acontecer em Brasília, classificada por Cabral como um terreno neutro. "Esta reunião tem que ser feita em Brasília. Tenho um enorme carinho pelo governador Luiz Henrique, mas acho que ela (reunião) começou com muito ruído e eu quero o PMDB unido, então, acho que é importante que o partido comece essa busca pela unidade em terreno neutro, que é Brasília, com a presença dos governadores e da direção nacional", disse Cabral depois de participar de um encontro com o prefeito do Rio, Cesar Maia, para discutir futuras parcerias entre governo do Estado e prefeitura.

Cabral negou veementemente que tenha recebido pedidos da ala de seu partido ligada ao Planalto para não comparecer ao encontro. O governador eleito disse apenas que "trocou idéias" com o governador eleito do Espírito Santo e os dois chegaram à conclusão de que o encontro deveria ocorrer em Brasília. "Jamais recebi qualquer ligação neste sentido. Eu troquei idéias com o governador Paulo Hartung e achamos que era melhor para o início de ação de busca de unidade do partido, que este encontro seja realizado em Brasília", afirmou.

Na hipótese de Thomaz Bastos manter a decisão de não continuar no governo, Lula não descarta a idéia de convencer Jobim a integrar o ministério. O gaúcho, no entanto, tem um projeto de longo prazo - disputar a Presidência - e avalia que essa maratona não passa por uma participação no governo. Lula então pode optar pelo ministro do STF Sepúlveda Pertence.