Título: Para Skaf, crescer é tarefa do presidente
Autor: Safatle, Claudia
Fonte: Valor Econômico, 16/11/2006, Brasil, p. A4

Depois de bater insistentemente na tecla dos efeitos corrosivos da dupla juro alto-câmbio valorizado sobre o setor produtivo da economia, o presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, incorporou ao seu discurso a necessidade de um ajuste fiscal baseado em choque de gestão, corte de gastos públicos e também eliminação de desperdícios. Sem isso, diz Skaf, o conjunto de medidas necessárias para levar o país a taxas mais altas de crescimento estará incompleto.

O presidente da Fiesp está convencido que apenas quando o crescimento virar uma obsessão, ele acontecerá. E essa tarefa, argumenta, é essencialmente do Poder Executivo e do presidente da República. Apesar de considerar que o Congresso Nacional tem responsabilidades e pode tanto acelerar como esfriar a adoção de medidas que ajudem o país a crescer, Skaf diz que tudo começa no Executivo. "Esse é um país presidencialista. É ao Poder Executivo, e especialmente ao presidente, que cabe formular as questões e as proposições que depois serão aprovadas ou não pelo Congresso", afirmou.

A assessoria econômica da Fiesp trabalha na elaboração de um conjunto de medidas que visam a estimular o crescimento econômico. Entre elas, um programa de redução do gasto público, que é considerado essencial. A intenção de Skaf é entregar as medidas - que também voltarão a contemplar a área cambial - ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva em evento a ser realizado na Fiesp, se o presidente aceitar o convite que Skaf pretende oficializar para que ele volte à sede da indústria paulista. Antes mesmo, porém, as propostas serão tornadas públicas, o que deve acontecer até o fim deste mês.

Para o presidente da Fiesp, o Banco Central não pode ser cobrado pelo baixo crescimento do país. "Não cabe a ele olhar o crescimento. Sua missão é olhar a moeda e a inflação", reconhece. Por isso, Skaf defende a ampliação do Conselho Monetário Nacional (CMN) para sete ou, no máximo, nove membros e com participação da sociedade civil. "É preciso incorporar outras visões ao CMN", diz o empresário, lembrando que hoje o conselho é composto pelo presidente do BC e pelos ministros da Fazenda e Planejamento.

O presidente da Fiesp não considera difícil entender o que está acontecendo na economia brasileira. Para ele, o baixo crescimento da produção industrial resulta de juros altos, câmbio valorizado, carga tributária elevada e insegurança jurídica para o agente privado investir.

A recuperação da massa salarial (mais de 5% nos últimos 12 meses), o aumento acumulado em quase 6% das vendas do varejo e o crescimento do emprego formal são, para ele, pontos fora da curva de uma situação que tende a piorar, se algo não for feito. "Em São Paulo, quase 90% do aumento do emprego é no setor de álcool", diz ele, argumentando que, por trás de estatísticas aparentemente positivas, há uma realidade que mascara os efeitos negativos da política econômica sobre o setor produtivo.

O crescimento, hoje, está muito concentrado, argumenta o presidente da Fiesp. Apenas quatro setores, diz Skaf, respondem por entre 55% e 60% do crescimento da indústria este ano, calculado em 2,7% em relação a 2006, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no acumulado até setembro. "Até o setor automotivo já começa a sentir os efeitos negativos, as montadoras já estão embarcando menos veículos do que no ano passado", argumenta Skaf.

O presidente da Fiesp nega que as relações da entidade com o governo Lula tenham ficado estremecidas com as eleições presidenciais, durante as quais um número muito maior de empresários manifestou apoio ao candidato da oposição, Geraldo Alckmin (PSDB), e uma parcela de diretores da instituição trabalhou ativamente na campanha tucana. "A Fiesp ficou neutra", insiste Skaf.

Skaf não nega seu apoio ao ministro da Fazenda, Guido Mantega, e à ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff. "Cumprimento o presidente por essas duas escolhas", disse Skaf. Na lista de cumprimentos, ele também cita os ministros Fernando Haddad, da Educação, e Silas Rondeau, de Minas e Energia, mas deixa de fora o ministro mais diretamente ligado à indústria e em especial ao veio paulista, Luiz Fernando Furlan, do Desenvolvimento.

Candidato à reeleição na Fiesp, Skaf não confirma a informação de que já há um acordo selado com a ala empresarial que disputou com ele a presidência da entidade em 2004, e que hoje está representada no Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp), presidido por Cláudio Vaz. "Hoje trabalhamos em sintonia", resume.