Título: Divisão do PMDB põe coalizão em risco
Autor: Costa, Raymundo e Ulhôa, Raquel
Fonte: Valor Econômico, 16/11/2006, Política, p. A9

Supostamente incentivada pelo PSDB e o PT, a divisão do PMDB voltou a se manifestar com intensidade e ameaça a coalizão com o governo proposta pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Uma reunião dos sete governadores da sigla, marcada para amanhã em Florianópolis (SC), até o fim da tarde de ontem tinha confirmadas as presenças apenas do governador do Rio Grande do Sul, Germano Rigotto, que não se reelegeu, e do presidente pemedebista Michel Temer, que se declarou "independente" na terça-feira.

Pelo menos quatro governadores - Eduardo Braga (AM), Marcelo Miranda (TO), Paulo Hartung (ES) e Sérgio Cabral (RJ) - receberam pedidos da ala ligada ao Planalto para não comparecer à reunião. "Esse comando (do PMDB) precisa se acertar. Nós não vamos arbitrar essa briga", disse ao Valor um desses governadores. Em reunião sigilosa na terça-feira, os dirigentes do grupo governista culparam o PSDB e o PT pela falta de consenso em torno de um apoio integral do PMDB ao governo, uma exigência de Lula para a formação de um governo de coalizão.

Temer reagiu à mobilização do Palácio do Planalto e de setores do PMDB para esvaziar a reunião de governadores: "É uma sandice tentar esvaziar a reunião de governadores. Ninguém ganha em tentar dividir o PMDB".

Ao PSDB não interessaria um "Lula absoluto" no Congresso, para melhor negociar suas demandas com o governo. Temer - como a maioria do partido que participou do governo Fernando Henrique Cardoso - é ligado aos tucanos. Luiz Henrique, que convocou a reunião dos governadores, tem problemas com o PT. De início, os governistas imaginaram que o encontro de Florianópolis era uma saída honrosa para Luiz Henrique aderir ao governo. Passaram a desconfiar depois da declaração de independência de Temer. A pauta da reunião, além da discussão de reformas e de um "novo pacto federativo", inclui também a posição do PMDB em relação ao governo Lula.

Os "governistas" do PMDB também acusam o PT de tentar sabotar o acordo. Dois fatos irritaram os pemedebistas: a abertura de uma ação contra o deputado Jader Barbalho (PA), o principal interlocutor da bancada da Câmara com Lula, e a exigência feita pela senadora Ideli Salvatti (PT-SC) para que Lula devolva ao partido o posto de líder do governo no Senado, que era ocupado por Aloizio Mercadante, trocado por Lula pelo senador Romero Jucá (PMDB-RR). Além disso, a bancada do PT na Câmara, insatisfeita por não ter sido chamada pelo presidente para conversar, lançou o nome do deputado Arlindo Chinaglia (SP) para a presidência da Câmara (ver matéria na página A8), cargo que, em princípio, seria ocupado pelo PMDB, que elegeu a maior bancada (89 deputados).

Lula quer reeleger o deputado Aldo Rebelo para a presidência da Casa, mas ainda não disse isso formalmente ao PT. O PMDB usa a prerrogativa de indicar alguém para o posto para negociar melhor seus espaços no governo. Tenta inclusive uma "saída honrosa" para Michel Temer, cujo mandato na presidência do partido vai até março de 2007. Com a demora de Lula, que reivindica um "partido unido" na coalizão, divisão ficou mais uma vez evidenciada e voltou a troca de acusações entre os grupos.

"O que estou vendo da minha província é muito ciúme de homem velho. Nunca vi tanta bobagem junta. O presidente da República é senhor do seu tempo. Quando ele achar conveniente chamar o partido, institucionalmente ou individualmente, ele chamará. E o partido, institucionalmente ou individualmente, tomará sua decisão", afirmou o deputado "neolulista" Geddel Vieira Lima (PMDB-BA) ao saber da declaração de "independência" de Temer.

A declaração de Temer, de início foi interpretada como sendo uma reação a movimentos da ala governista de isolá-lo. Na noite anterior, Temer decidiu não participar de uma reunião na casa de Jader Barbalho por ter sido informado que seria "emparedado" pelo anfitrião. Segundo interlocutores de Temer, Jader diria que a eleição foi vencida pela ala aliada de Lula e, por isso, Temer teria de aceitar uma espécie de "prêmio de consolação" na composição com o governo.

O presidente do PMDB, que vinha consultando deputados e governadores do partido sobre a idéia de apoiar o governo, decidiu declarar "independência" e condenar a negociação conduzida pelo Palácio do Planalto, privilegiando a "interlocução pessoal" em vez da interlocução institucional.

Deputados da ala governista do partido também não estão satisfeitos com o fato de Jader estar exercendo praticamente sozinho a interlocução da Câmara com o Planalto. Um dos mais desconfortáveis é Eunício Oliveira (PMDB-CE), ex-ministro, que tem se sentido isolado das negociações. A ala governista, representada principalmente pelos senadores Renan Calheiros (AL), presidente do Senado, José Sarney (AP) e Romero Jucá (RR), líder do governo no Senado, se diz preocupada com a iminência de uma crise partidária. (Com agências noticiosas)