Título: Pesquisa da CNI indica que projetos ficam no papel
Autor: Neumann, Denise
Fonte: Valor Econômico, 10/11/2006, Brasil, p. A4

Pesquisa realizada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) revelou que os empresários do setor investiram menos que o planejado em 2006 porque houve, principalmente, incerteza quanto à evolução da demanda. O trabalho também mostrou que, para a maioria das indústrias, a capacidade produtiva não precisa ser ampliada. Além disso, os executivos não têm intenção de aumentar a compra de máquinas e equipamentos e as grandes empresas direcionam seus investimentos para o mercado doméstico, segundo os resultados da Sondagem Especial sobre investimentos da CNI.

Na interpretação do coordenador da Unidade de Política Econômica da entidade, Flávio Castelo Branco, esse comportamento revela frustração da indústria e compromete um crescimento sustentável do Produto Interno Bruto (PIB) a taxas próximas dos 5% ao ano. "É preocupante o ritmo do investimento. Para crescer 5% de maneira repetida e sustentada, é preciso muito mais. Se chover muito na horta, poderemos até crescer 5% em 2007, mas isso não se mantém", alertou.

O trabalho da CNI mostrou, segundo o economista, frustração com o crescimento. As respostas de 1.366 pequenas e médias indústrias e 215 grandes empresas do setor apontaram que apenas 36% das empresas que pretendiam investir neste ano realizaram seus planos. Mais de 80% das empresas acreditam que sua capacidade produtiva é suficiente para a demanda de 2007.

Na análise setorial da pesquisa, a CNI mostrou que os segmentos de álcool, papel/celulose e alimentos foram os que mais seguiram seus planos de investimento. Comportamento contrário foi verificado nas áreas de equipamentos hospitalares e de precisão, móveis, madeira e calçados.

Quanto à capacidade instalada entre 2004 e 2006, as maiores expansões ocorreram nos setores de álcool, farmacêutica, papel/celulose e máquinas/material elétrico. Vestuário, têxtil, calçados e madeira foram os que menos aumentaram a capacidade instalada.

Sobre a expectativa de mais investimentos em bens de capital, o trabalho da CNI revelou que 52,9% das grandes empresas estão pouco propensas a esse objetivo. Os setores mais inclinados a comprar máquinas e equipamentos são os de álcool, outros equipamentos de transportes, refino de petróleo e farmacêuticos. Os mais céticos são têxteis, madeira e couro.

Os comportamentos são diferentes entre grandes e pequenas indústrias. Para 2007, os três objetivos mais citados pelas grandes empresas para investir são: melhorar a qualidade, aumentar a produção e lançar novos produtos. Para as pequenas, o aumento da produção lidera as razões.

Quando respondem sobre os principais entraves ao investimento, a divisão se repete. A pequenas citam que os maiores fatores são: incerteza quanto à demanda, escassez de recursos próprios e insegurança tributária. Para as grandes, além da demanda incerta, atrapalham a insegurança tributária e os custos de financiamento.

Outro efeito preocupante do câmbio, segundo a CNI, é o direcionamento do investimento para atender ao mercado interno. "O crescimento da economia tem sido baixo, puxado pelo consumo. Mesmo nesse cenário, as importações vem tomando espaço do produto nacional", advertiu Castelo Branco.