Título: Indústrias exportadoras prevêem investimento de R$ 380 bi até 2010
Autor: Neumann, Denise
Fonte: Valor Econômico, 10/11/2006, Brasil, p. A4

Um grupo de nove setores industriais tem projetos definidos que correspondem a um investimento de R$ 380 bilhões para o período 2007-2010. A conta é do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que usou tanto sua carteira de clientes como informações setoriais para compor esse levantamento. O volume mapeado para o futuro corresponde a aumento de 84% em relação ao que foi efetivamente investido por esses nove segmentos no período 2002-2005. Pela dificuldade de mensurar os investimentos em curso neste ano, 2006 ficou fora dessas estatísticas do banco.

Além do aumento expressivo no valor, os investimentos mapeados para os próximos quatro anos trazem uma profunda diferença de perfil em relação ao período anterior: representam uma efetiva ampliação da capacidade instalada, enquanto antes os projetos foram muito focados em modernização, explica Ernani Teixeira Torres Filho, superintendente da Secretaria de Assuntos Econômicos (SAE) do BNDES.

O levantamento do banco - que contempla 63% da taxa de investimento da indústria - mostra uma forte concentração (48% do total) no setor de petróleo e gás, seguido pela extrativa mineral (mais 14%). Na sequência, destaca-se o setor siderúrgico, onde após um período de pequenos investimentos (mais ligados à modernização das instalações existentes) está em curso um ambicioso plano de expansão, cujo resultado será dobrar a capacidade instalada nos próximos cinco anos.

O mapeamento do BNDES mostrou que para chegar a essa produção, o setor siderúrgico tem projetos que somam R$ 37 bilhões e correspondem a aumento de 157% (ou 21% ao ano), considerando-se a comparação entre os períodos 2002-2005 e 2007-2010.

Outros setores com projetos relevantes são papel e celulose (cuja intenção é elevar a capacidade instalada em 60% até 2010); petroquímico (aumento de 45% na oferta de eteno, principal insumo do setor), e sucroalcooleiro, para o qual existem 89 projetos de novas unidades industriais, dos quais 51 já em andamento, segundo levantamento do BNDES, apresentado na edição nº 19 do boletim "Visão do Desenvolvimento" , que circula a partir de hoje.

A análise do BNDES mostra que os setores que estão planejando estes investimentos possuem uma demanda autônoma em relação ao mercado doméstico e planejam direcionar a totalidade ou a maior parte da ampliação de produção à exportação. "Esses investimentos vão ocorrer independentemente da evolução do mercado interno", observa Fernando Puga, assessor da presidência do BNDES e autor do estudo junto com Torres Filho.

Assim, dizem os autores, esses investimentos, ao mesmo tempo em que ajudarão a economia no futuro (porque geram demanda e emprego em outras áreas da cadeia produtiva, seja da fase do investimento, seja da fase posterior de produção), são pouco afetados pela política econômica (leia-se renda, juros e câmbio).

A taxa de câmbio - reclamação unânime entre os exportadores nacionais - não dita a dinâmica destes setores, explicam Puga e Torres Filho. Nos setores siderúrgico e de papel e celulose, o Brasil possui um dos menores custos de produção do mundo (o menor para o aço e o segundo menor para papel e celulose, segundo dados do BNDES), o que os torna extremamente competitivos. Além disso, e também em função disso, nesses setores há um deslocamento da produção dos países do hemisfério Norte (EUA e União Européia) para o Sul. E o Brasil se beneficia do deslocamento.

"O Brasil ficou meio de fora do fluxo da economia internacional até três, quatro anos atrás", observa Torres Filho. "Com o aumento do preço das matérias-primas e com a forte demanda chinesa, isso mudou", acrescenta.

O estudo do BNDES também tenta estimar a participação desses investimentos na formação bruta de capital fixo (FBCF). Considerando um cenário de crescimento de 3,7% para o Produto Interno Bruto (PIB) em 2006, e 5% ao ano no período 2007 a 2010, os resultados indicam que este conjunto de investimentos pode gerar impacto positivo de 1,4 ponto percentual do PIB na taxa de investimento da economia ao longo do período.

O mapeamento do BNDES mostrou que nos setores mais ligados à demanda interna e ao consumo da população, os investimentos planejados são bem menos expressivos que nos setores que representam commodities, ainda que estes setores não possam ser considerados primário-exportadores e tragam agregação de valor.

Os setores que atendem aos consumidores de bens finais - automotivo, eletroeletrônica e farmacêuticos - respondem por 13% das intenções mapeadas pelo BNDES. No segmento automotivo, o crescimento é de 6,4% ao ano entre os períodos analisados (2002-2005 e 2007-2010), percentual que cresce para 13,9% em eletroeletrônica.

Para Puga, apesar destes setores responderem mais diretamente ao câmbio do que os demais analisados, não existe risco de "desindustrialização". No setor automotivo, diz, o país ainda tem ociosidade e, apesar de alguns sinais de perda de dinamismo exportador, o país tem adotado um modelo de produção (protagonizado na fábrica da Ford, em Camaçari, na Bahia) que é extremamente competitivo.

Leia a íntegra em www.bndes.gov.br