Título: Continente precisa de Estados fortes, diz Lula
Autor: Lyra, Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 10/11/2006, Brasil, p. A6

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem, após visita do presidente do Peru, Alan García, ao Palácio do Planalto, que "peruanos e brasileiros ainda precisam de um Estado forte, indutor, para que possamos acabar com a pobreza nos nossos países e nosso continente".

Para Lula, os acordos assinados ontem - 12 ao todo - são prova de que Brasil e Peru sabem que não existe saída individual para nenhum país da América do Sul. "Temos de nos convencer de que somos países pobres, que temos muito ainda que evoluir e que, quanto mais trabalharmos juntos, mais teremos chances de enfrentar esse mundo globalizado", afirmou o presidente.

García é o primeiro presidente a visitar o Brasil depois da reeleição de Lula. "Tenho a alegria de receber sua visita no momento em que o povo brasileiro reafirmou nas urnas sua esperança em novo Brasil", disse Lula. Mais à frente, o presidente brasileiro declarou que a relação entre os dois países tende a melhorar a partir da avaliação dos erros cometidos no passado pelas duas nações.

"O povo nos deu uma chance e eu acho que precisamos concretizar essa chance na realização do sonho do povo peruano e do povo brasileiro: mais desenvolvimento, mais emprego, mais política educacional e, sobretudo, mais política social," afirmou o presidente brasileiro.

Dentre as propostas de cooperação bilateral, estão acordos nas áreas de energia, defesa, saúde e programas sociais. Esse último ponto foi destacado por Lula em seu discurso. "Vamos trocar experiências bem-sucedidas na área social, como o Bolsa Família, do Brasil e o programa Juntos do Peru." Lula destacou ainda que o Peru, hoje, está no "horizonte estratégico das grandes empresas brasileiras nos setores de energia, mineração, siderurgia, construção civil e bens de consumo".

García revelou que a vitória de Lula era aguardada pelos peruanos para intensificar as parcerias que permitirão reduzir a pobreza no continente. "Você tem essa consciência clara e por isso aguardamos com expectativa sua nova eleição: para trabalharmos juntos nestes anos que nos restam para esse projeto de aliança estratégica", declarou o presidente peruano, afirmando que suas palavras representavam o sentimento do povo de seu país.

O presidente peruano reiterou o pedido de ajuda para implantar programas sociais no Peru. "Estamos dando passos fundamentais na política social que você implementou, e que lhe garantiu um imenso respaldo popular. Temos muito que aprender para implementar o Bolsa Família em nosso país. Por isso, pedimos seu apoio e o respaldo técnico de seus funcionários."

García destacou também que o Brasil deve liderar esse processo de integração regional, por ser o maior país do continente, "um gigante generoso". Lembrou que o mundo está se organizando em blocos comerciais. E ressaltou que a América do Sul, junta, produz mais que a China. "Não temos, lamentavelmente, a união que converta a América Latina em um poder. Não temos a moeda única, como o yuan chinês, que faz tremer as outras moedas do mundo. Nossa responsabilidade histórica é construir a união sul-americana", declarou o presidente peruano.