Título: Candidato brasileiro é derrotado na UIT
Autor: Moreira, Assis
Fonte: Valor Econômico, 10/11/2006, Brasil, p. A6

O governo Luiz Inácio Lula da Silva sofreu ontem nova derrota na tentativa de obter a direção de uma agência das Nações Unidas. Agora foi na União Internacional de Telecomunicações (UIT). Roberto Blois, o candidato brasileiro para a direção-geral da entidade, retirou à noite sua candidatura, diante do pouco apoio que obteve em duas rodadas de votação.

No ano passado, o Brasil já tinha sido derrotado para a direção da Organização Mundial do Comércio (OMC), quando seu candidato foi um dos primeiros a ser eliminado numa disputa que elegeu o francês Pascal Lamy.

"Sabíamos que era difícil, mas é uma pena, porque a UIT é importantíssima, ainda mais que o Brasil a defende para administrar a internet, em lugar dos Estados Unidos, regulamenta freqüências internacionais de banda larga etc", lamentou o ministro das Comunicações, Hélio Costa.

Há quase três anos que o governo fazia campanha para Blois, que atualmente é vice-diretor da UIT. Brasília enviou ministro, diretores da Anatel e diplomatas para a assembléia da UIT em Antalia (Turquia) para a campanha final. A expectativa era de o candidato obter os 34 votos da América Latina e apoios de alguns países africanos e de outras regiões, para se confrontar com outros cinco candidatos.

"Ocorre que perdemos logo seis votos da América Latina de países que não vieram sequer para a conferência nem nos deram o direito de votar por eles", disse o ministro ao Valor. Entre esses estão o Paraguai, sócio no Mercosul, e o Haiti, país onde o Brasil tem centenas de soldados protegendo a população. Os outros são Nicarágua, El Salvador, Guatemala e Belize. E uma surpresa, segundo fontes da entidade, foi o voto unido dos africanos pelo representante da região.

"O Peru agiu bastante corretamente, não pôde vir, mas nos passou o direito de voto", disse Hélio Costa. Ontem, na primeira rodada de votação, Blois só obteve 29 votos entre 156 países, ficando bem atrás dos representantes do Mali e da Alemanha.

Na segunda votação, o brasileiro perdeu ainda mais apoio, baixando para 24 votos, enquanto o alemão tinha 51 e o africano ficava com 72 votos, próximo dos 79 necessários para ser eleito.

"Nessa hora sugerimos a Blois retirar a candidatura", disse Hélio Costa. Na quarta-feira, o Brasil votara a favor da candidata da China para a direção-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), ajudando a derrotar o candidato mexicano. Mas o ministro acha que isso não influenciou na votação para a UIT. "Na OMS, o Brasil pagou o voto que a China nos tinha dado na OMC", disse. Em Genebra, o ministro da Saúde, Agenor Álvares, reiterara que o Brasil não barganhava voto. Hoje, o Brasil "honrará seu compromisso" de apoiar a África. Votará na UIT pelo candidato do Mali, Hamadou Touré.

A UIT é a mais antiga organização internacional. Foi fundada em 1870 e ocupa-se das normas técnicas para telefone, telex, satélite, rádio e televisão. Mas a entidade busca outras funções para se ocupar, principalmente em tecnologia de ponta. O Brasil é um dos países que defendem um órgão multilateral para administrar a rede mundial de computadores, em substituição à Internet Corporation for Assigned Names and Numbers (Icann).

O Brasil considera ter direito a dirigir agências da ONU porque é o décimo maior contribuinte da organização e está sem cargo de direção desde a aposentadoria de Rubens Ricupero na Conferência das Nações Unidas para o Comércio e o Desenvolvimento (Unctad) e da morte de Sérgio Vieira de Melo, que era representante da ONU no Iraque. Enquanto isso, a China surge com vontade de exercer seu poder na cena multilateral.