Título: Presidente diz que medidas pelo crescimento virão antes do ministério
Autor: Leo, Sergio e Lyra, Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 10/11/2006, Política, p. A7

O governo prepara um "pacote de coisas que vão acontecer" para garantir o crescimento econômico, anunciou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Incomodado com os entraves burocráticos e jurídicos na execução de obras pelo país, Lula informou que pretende convidar integrantes dos órgãos de meio ambiente, do Judiciário e do ministério público para discutir formas de acelerar a aprovação de obras e evitar a contestação das iniciativas do governo. "Tem gente que só fala em corte, corte, corte; tem de parar de falar nisso e falar em crescimento", comentou.

"Levo 10 anos para começar o gasoduto Coari-Macapá, bilhões, três mil homens trabalhando e alguém entra na Justiça federal e pára a obra", queixou-se, ao relatar a tramitação de um processo para o gasoduto entre Venezuela e Brasil. "Começo uma ferrovia e o Ibama paralisa tudo por um problema no canteiro de obras", acrescentou, ao sugerir mudanças nas leis federais que responsabilizam unicamente os fiscais em caso de irregularidades encontradas em obras liberadas.

Ao lhe perguntarem como o governo conseguirá o dinheiro para financiar o crescimento, Lula comentou que os recursos "vão aparecer". "Vocês vão ver", disse, sorrindo. Com o pequeno espaço existente no orçamento federal para modificações pelo governo, cortes possíveis chegariam a R$ 1 bilhão, ou R$ 2 bilhões e "não resolveriam nenhum problema", comentou o presidente ao negar estar discutindo um pacote fiscal com sua equipe econômica.

Lula reagiu com irritação a perguntas sobre as mudanças no ministério, que, segundo afirmou, vai permanecer o mesmo até o fim do ano e será objeto de discussões com os partidos que o apóiam, com base no programa de governo que pretende levar a eles. Ao ouvir que não precisa consultar os partidos para mudar a equipe econômica, perguntou, veemente: "Quem disse que quero mudar? Já afirmei que não quero mudar a política.". Ao lhe perguntarem se estava declarando que não haverá mudanças na equipe econômica, desconversou. "Não tenho necessidade, não é meu problema agora"

"Estou preocupado, primeiro, em anunciar o pacote das coisas que vão acontecer" , disse. "A única coisa que quero dizer é que quero anunciar neste ano, não quero deixar nenhuma dificuldade para o próximo presidente", completou, bem-humorado.

O ministro da Fazenda, Guido Mantega informou que, a pedido de Lula, dedicará os próximos dias a preparar as medidas para garantir o crescimento que, segundo garantiu, serão apresentadas na terça-feira. Esse foi o motivo de ter desistido de participar da reunião do G20, em Melbourne (Austrália), explicou.

"Ele quer que fique pronto o mais depressa possível. Quer antecipar o funcionamento do governo. Vai ser uma sucessão presidencial inédita porque não vai ter solução de continuidade. Vamos implementar novas medidas neste ano. O presidente quer medidas de curto prazo na área tributária", revelou.

Sem constar da agenda divulgada pelas respectivas assessorias, Mantega e o ministro do desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan reuniram-se ontem para discutir as instruções do presidente Lula. Discutiram, segundo informou o próprio Furlan, ao sair, como garantir crescimento econômico acima de 5% já em 2007. "O presidente determinou que fossem elaboradas medidas que dêem condições para que haja um crescimento da economia acima de 5% para o ano que vem", explicou Furlan sem dar detalhes sobre as medidas fiscais e tributárias que estão em fase final de preparação.

O ministro Furlan também afirmou que "está na reta final" a medida provisória que tem como objetivo incentivar a indústria de semicondutores desonerando os investimentos no Brasil. À saída do encontro com Mantega, no horário do almoço, Furlan ainda evitou as especulações sobre a sua permanência no atual cargo ou até mesmo no governo durante o segundo mandato de Lula. "Esse é um assunto que já foi tratado exaustivamente e a imprensa está resolvendo a questão. Estou esperando para ver o que os jornais decidem", ironizou.

Mantega e Furlan estarão no Rio hoje. Mas suas assessorias informam que não está previsto um encontro. Mantega participa da reunião do Conselho de Administração da Petrobras. Furlan vai à reunião do Conselho de Administração do BNDES.

O presidente Lula enfatizou, numa segunda entrevista, ontem, ao sair de almoço com o presidente do Peru, Alan Garcia, sua preocupação com o plano de crescimento. Ele disse que o tema preocupa mais do que a montagem do novo ministério. Afirmou que é muito mais fácil montar o novo ministério agora do que há quatro anos.

"Se eu tive complicação para formar um governo, foi no primeiro mandato. Neste segundo mandato, eu já tenho o governo formado - o que ganhou as eleições. Acabo de sair de um jogo no qual obtivemos uma vitória considerável", disse.

O presidente afirmou também que está chamando todos os partidos aliados para "explicar para eles que tipo de governo eu quero fazer, como as coisas vão funcionar". Essas conversas, de acordo com ele, serão fundamentais para definir os próximos passos. "A partir daí vou começar a pensar se eu vou mudar, o que eu vou mudar, quem eu vou mudar e quando", disse o presidente.

Lula reiterou que, no momento, está focado em maneiras para desobstruir "algumas coisas nas áreas de infra-estrutura e fiscal, para que a gente possa começar o ano dando um salto de qualidade". O presidente conversou ontem com o senador Alfredo Nascimento (PR-AM), cotado para reassumir o Ministério dos Transportes. Nascimento entrou e saiu da garagem sem falar com a imprensa.

O ministro do Turismo, Walfrido Mares Guia, reforçou que seu partido está disposto "a ajudar o presidente a fazer o melhor pelo Brasil, sem se preocupar com cargos". Ele acredita que o novo ministério só sairá próximo do Natal. "Há quatro anos atrás, eu recebi o convite no dia 23 de dezembro", recordou.

O governador do Acre, Jorge Viana, que foi ontem ao Planalto junto com seu sucessor, Binho Marques, disse que o presidente "está pensando 25 horas por dia no novo ministério, com o radar e o transponder ligados". Mas assegurou que nenhum nome está definido. Lula também recebeu, no fim do dia, a visita da governadora eleita do Pará, Ana Júlia Carepa (PT). (Colaborou Arnaldo Galvão)