Título: Regras para capital privado em aeroportos
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Fonte: Correio Braziliense, 05/01/2011, Opinião, p. 16

O desconforto e a falta de respeito dos atrasos e cancelamentos de voos a que estão submetidos milhares de brasileiros ¿ que nesta época do ano aumentam o movimento nos aeroportos ¿ não param de sinalizar: a infraestrutura e a qualidade do serviço prestado pela aviação civil não podem mais esperar por dias melhores. Acordo de última hora entre o governo, empresas e trabalhadores do setor evitou que uma greve instalasse de vez o caos, nos moldes do apagão aéreo que, na passagem de 2007 para 2008, transformou as estações de passageiros em dormitórios improvisados, acampamentos da desilusão.

Mas ninguém se engane. Qualquer usuário mais frequente do transporte aéreo sabe que o confronto trabalhista ora adiado é apenas uma ponta do problema, e está muito longe de ser resolvido. Nem é preciso esperar o megaevento da Copa do Mundo de 2012 para se certificar de que o setor já está no limite. Números da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) e da Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero) indicam que, nos dois últimos anos, a demanda interna por passagens aéreas tem crescido na base de 23% ao ano.

O ritmo é pelo menos três vezes mais rápido do que o do avanço do Produto Interno Bruto (PIB). O aquecimento dos negócios, o aumento do desemprego e da renda da população estão por trás dessa explosão do mercado da aviação. Além disso, a estabilidade da moeda e um pequeno aumento na concorrência, proporcionado pelo crescimento de empresas de menor porte, têm obrigado as operadoras a praticar preços promocionais. Não são poucos os brasileiros que nos últimos anos fizeram sua primeira viagem de avião.

Ao mesmo tempo, como constatam especialistas, a expansão da oferta da infraestrutura aeroportuária está longe de acompanhar esse crescimento. A estatal Infraero, que administra os 67 aeroportos mais importantes do país, tem planos de investir mais de R$ 5 bilhões nos próximos anos. Mas sua história recente não sugere agilidade para tirar os projetos do papel. É, pois, urgente quebrar o descompasso entre a oferta e a procura comprometedora do desenvolvimento de setor tão indispensável à vida moderna.

Nesse sentido, foi animadora a manifestação da presidente Dilma Rousseff, no discurso de posse no Congresso Nacional, de que, além da preocupação com a Copa, é mais que necessário melhorar já os aeroportos. Acostumada a definir metas e a cobrar a execução, é bom que a presidente ponha fim às discussões infrutíferas.

Se pretende atrair a participação de capitais privados, Dilma Rousseff deve definir logo qual destino dará aos aeroportos e com que regras vão conviver os parceiros. Mas a presidente não deve correr o risco da simplificação dos que a aconselham a dar prioridade apenas aos terminais de São Paulo e do Rio de Janeiro. O problema afeta quase todas as grandes capitais e, pela própria natureza da aviação, não há soluções parciais duradouras.