Título: Fabricante de carros chinesa Chery instala linha no Uruguai
Autor: Rocha, Janes
Fonte: Valor Econômico, 08/11/2006, Empresas, p. B9

A ameaça chinesa aos fabricantes de carros instalados no Mercosul vai tornar-se real em pouco tempo. A montadora de automóveis chinesa Chery está desembarcando no Mercosul, com uma fábrica para montagem em Montevidéu, no Uruguai, e uma fábrica de autopeças na província de Buenos Aires, em sociedade com a Socma, uma empresa do grupo argentino Macri.

Os primeiros carros chegarão ao mercado da região no ano que vem e já estão sendo acertadas parcerias para fabricação de autopeças e distribuição no Brasil.

Com a fábrica no Uruguai, a chinesa Chery entra para o regime automotivo do Mercosul e competirá de igual para igual com as montadoras instaladas na região - carros produzidos fora da região são taxados em 35% da Tarifa Externa do Mercosul (TEC). A competição promete ser acirrada.

Um pré-lançamento dos modelos Tiggo e QQ foi realizado na noite de quarta-feira para os concessionários argentinos em Buenos Aires. O Tiggo é um modelo utilitário esportivo, com opção de tração 2x4 e 4x4. O QQ é um compacto com motores de 800 e 1000 cilindradas.

A Chery está chegando pela primeira vez com uma unidade nas Américas, onde iniciou as vendas de modelos importados no ano passado, na Venezuela. O investimento no complexo automotivo do Mercosul será de US$ 100 milhões. A companhia chinesa terá 51% do capital da nova montadora e a gestão administrativa, enquanto a Socma, terá o restante. Já a parte argentina será dividida (51% e 49%) com um empresário uruguaio que preferiu não ser identificado, informou Leonardo Maffioli, diretor do Socma.

A fábrica, em construção em Montevidéu, terá capacidade para produzir 25 mil veículos por ano, em uma primeira etapa que deve ser completada em três anos com a produção de 10 mil unidades do modelo Tiggo e 15 mil, do QQ.

Em uma segunda etapa, a produção será elevada para cerca de 100 mil unidades e o plano é abrir uma montadora na Argentina que, na primeira etapa, abrigará um centro de produção de autopeças com centenas de pequenos e micro fornecedores.

Pelas regras do regime automotivo do Mercosul, no primeiro ano o índice de nacionalização dos veículos será de 40%, passando no segundo ano para 50% e no terceiro, para 60%.

"Por enquanto começamos aqui, mas asseguro que no futuro vamos para o Brasil. O desenvolvimento das nossas operações no Brasil vai depender do êxito dessa experiência piloto na Argentina", disse ao Valor Yin Tongyue, diretor do projeto Mercosul da Chery. Tongyue e Maffioli afirmaram que já estão sendo contatados fabricantes de autopeças e revendedores no Brasil, mas não quiseram dar os nomes.

Carlo Cappeli, outro diretor da Socma, calcula que o Tiggo vai chegar ao mercado argentino custando US$ 24 mil na versão 4x4. "No Brasil vai custar mais por causa dos impostos, e seu preço será mais alto que o Ford EcoSport porém mais baixo que o Toyota RAV 4 e o Honda CRV", afirmou Cappeli, sem dizer quanto exatamente. No mercado brasileiro, tanto o RAV quanto o CRV são modelos do segmento de luxo importados do Japão.

A Chery Automobile Co. é um gigante dos veículos que está rapidamente galgando as primeiras posições na produção mundial de carros. Fundada em 1997, é uma das maiores montadoras da China, com patrimônio estimado de 10 bilhões de yuan (US$ 1,272 bilhão).

Uma estatal controlada pelos governos da cidade de Wuhu e da província de Anhui (Sudeste da China), a Chery tem 13 mil empregados e exporta para 53 países. A companhia chinesa tem fábricas no Irã, Egito, Rússia e Malásia. A sua produção está crescendo 80% este ano comparado com o ano passado e a projeção é atingir mais de um milhão de veículos em 2010, quando dominará 40% das exportações chinesas de autos.

A negociação entre os chineses, os argentinos e os uruguaios para instalação da fabrica de automóveis levou dois anos e seu anúncio coincide agora com a designação do empresário Franco Macri, fundador do grupo, como conselheiro senior para investimentos na América Latina, títulos outorgado pela Associação para a Promoção e Desenvolvimento Industrial da República Popular da China (Capid, na sigla em inglês).

Macri será o contato para empresas chinesas interessadas em investir nos setores de recursos naturais, energia, alimentos, telecomunicações e infra-estrutura em todos os países da região.

A parceria com a Chery marca também o retorno do grupo Macri à produção de automóveis. Entre 1982 e 1997, o grupo tinha participações de 50% na produção de automóveis da Argentina, através de sociedades de sua unidade automotiva Sevel com as montadoras da Fiat, Peugeot e General Motors. A crise financeira que atingiu a região no final dos anos 90, abateu a Sevel que vendeu suas participações para a Peugeot.