Título: Guascor elimina dívida em dólar
Autor: Capela, Maurício
Fonte: Valor Econômico, 10/11/2006, Empresas, p. B10

A mesa de trabalho de Joaquim Sanches Pereira, o presidente da filial brasileira da espanhola Guascor, foi no último ano espectadora privilegiada de uma intensa troca de papéis. Afinal, a companhia, que gera por meio de 71 termelétricas energia para as regiões isoladas do Pará, Rondônia e Acre, decidiu reestruturar a sua dívida de R$ 82 milhões, fruto ainda do forte investimento de US$ 120 milhões realizado entre 1997, quando desembarcou por aqui, e 2006.

O resultado de tamanho esforço foi bom. Além de não dever mais nenhum centavo em dólar e de ter todos os vencimentos atrelados ao real, a Guascor ainda alongou seu prazo de pagamento, que pulou de três anos e seis meses para meia década. "O custo da dívida ficou muito menor, até porque os juros diminuíram sensivelmente", explica Sanches ao Valor.

O responsável pela mágica tem nome e sobrenome: banco Real, que pertence ao holandês ABN Amro. Mágica essa que consumiu um ano de intensas negociações, já que antes a Guascor tinha seu endividamento dividido por algumas financeiras do país.

Altair Assumpção, superintendente-executivo de "middle market" do Real, explica que essa reestruturação só foi feita nesses moldes porque a empresa tinha geração de caixa identificada e pertencia a um setor, o de energia, considerado importante pelo banco. "Mas a verdade é que temos olhado as empresas médias da mesma forma que observamos os grandes grupos", diz Assumpção.

O fato é que a operação, de cara, deverá ampliar o lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações (lajida). Em 2005, a Guascor registrou um lajida de 27,7% e a expectativa é que, uma vez desonerada, a companhia tenha uma geração de caixa de 45% por ano daqui a cinco anos.

Mas o presidente da Guascor no país acredita que haverá mais efeitos positivos. Diz, inclusive, que terá condições de manter sua política de investimentos e até lançar ações na bolsa de valores no Brasil.

Além disso, conta, que terá fôlego também para investir R$ 15 milhões no próximo ano, sendo R$ 13 milhões só para erguer uma nova térmica em Buritis (RO), com capacidade de 16 mil megawatts (MW). A atual tem 11 mil MW e seus equipamentos, quando desativados, serão espalhados pelos estados.

Agora, para disponibilizar papéis no mercado de capitais nacional, Pereira conta que, antes, precisará dar alguns passos. Um deles é ampliar o tempo de contrato de fornecimento de energia que mantém com as distribuidoras do Acre, Rondônia e Pará. Hoje, parte dos seus acordos vence em 2010 e outra em 2014.

"O ideal seria estendermos esses prazos para duas décadas ou até mais, porque isso daria longevidade e criaria valor para investidores", explica. O presidente da Guascor aproveitou também para afirmar que o fato da matriz não possuir ações no mercado espanhol não impediria que o grupo lançasse papéis no país. E isso ocorre porque há total liberdade no dia-a-dia do negócio.

Com um faturamento de R$ 120 milhões e lucro líquido de R$ 18 milhões projetado para 2006, a operação da Guascor no Brasil é considerada fundamental para a companhia. Além de ser a única das 20 subsidiárias a possuir ativos fora da Espanha, representa 30% da receita global de 350 milhões de euros. "O Brasil é a segunda maior operação em receita", acrescenta Pereira, que prevê um faturamento de R$ 140 milhões e lucro líquido de R$ 21 milhões em 2007.

Além das termelétricas, que estão agrupadas em uma companhia chamada Guascor do Brasil, a empresa ainda possui uma Pequena Central Hidrelétrica (PCH) em Jaguari (RS), agrupada em uma companhia batizada como Jaguari. Há ainda um terceiro grupo chamado Guascor Serviços. Do faturamento total, a primeira representa 85%, já a segunda tem 7,5% e a de serviços fica com 5%. Os 2,5% restantes são gerados pela Guascor Empreendimentos, a holding do grupo no país.