Título: USDA não surpreende, e commodities têm forte queda
Autor: Zanatta, Mauro
Fonte: Valor Econômico, 10/11/2006, Agronegócios, p. B13

Como ponderaram analistas, é verdade que o relatório de oferta e demanda de grãos divulgado ontem (dia 9) pelo Departamento de Agricultura dos EUA (USDA) em geral apenas confirmou tendências e expectativas. Mas também é verdade, e os mesmos analistas concordam, que alguns números divulgados merecem destaque pelo apelo estatístico que embutem.

No caso do milho, o grão mais cultivado do mundo, o órgão reduziu sua projeção para a produção global na safra 2006/07 das 689,14 milhões de toneladas estimadas em outubro para 688,73 milhões. Uma queda restrita, não fosse o tombo projetado para a oferta dos EUA, que na mesma comparação caiu de 277 milhões para 272,93 milhões de toneladas. "Que haveria uma redução era consenso, mas o número veio abaixo do esperado", afirmou Paulo Molinari, da Safras&Mercado.

O USDA também reduziu sua estimativa para o consumo, mundial e americano, e não houve outras surpresas. Mas, ainda que a redução da oferta dos EUA seja uma notícia potencialmente "altista" - e apesar do forte ritmo das exportações daquele país -, as cotações do grão caíram em Chicago. Os contratos com vencimento em março fecharam a US$ 3,66 por bushel, em queda de 7,50 centavos. Molinari também não se surpreendeu com o recuo, uma vez que os preços estão em elevado patamar e suscetíveis a movimentos técnicos e de fundos de investimentos.

Para o trigo, o USDA apenas confirmou que a produção mundial está em queda livre, sobretudo graças à quebra australiana, mas novamente há números que chamam a atenção. Como destacou Élcio Bento, também da Safras, as novas previsões do órgão americano mantêm a relação entre estoques finais e produção mundiais em seu mais baixo nível histórico - 16,5%. "Entre 1961 e 1995, esta relação nunca foi inferior a 20%. Em 1996 foi de 19% e as cotações atingiram, naquele ano, seu recorde histórico, superior a US$ 5 por bushel em Chicago". Por isso, é de se esperar que a escalada perdure.

Ontem, na bolsa de Chicago, os papéis do grão para entrega em março fecharam a US$ 5,0850 por bushel, em baixa de 17 centavos de dólar. Segundo analistas ouvidos pela agência Dow Jones Newswires, o tombo não refletiu os fundamentos do mercado, mas uma liquidação promovida por fundos de investimentos - em parte influenciada pela retração do milho.

Das três principais commodities negociadas em Chicago, a soja foi a que teve os mais mornos números no novo relatório do USDA. Mas, como notou Renato Sayeg, da Tetras Corretora, o ciclo 2006/07 terá as maiores produções americana e mundial de todos os tempos - ainda que os números tenham vindo abaixo das expectativas. Em Chicago o roteiro foi o mesmo de milho e trigo. Os contratos com vencimento em janeiro caiu 8,50 centavos, para US$ 6,6950 por bushel.

Em relação ao Brasil, o USDA também confirmou a queda da participação das exportações brasileiras no total mundial, de 40,2% na temporada 2005/06 para 36,7% em 2006/07. No caso da Argentina, o órgão estimou uma redução de 11,3% para 9,9% na mesma comparação, e o espaço proporcional desocupado pelos países sul-americanos será ocupado pelos Estados Unidos. Impulsionado por sua safra recorde, a fatia daquele país nas exportações globais de soja deve passar de 40% para 44,2%.

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