Título: Disputa entre PT e PMDB domina negociação
Autor: Costa, Raymundo e Romero, Cristiano
Fonte: Valor Econômico, 10/11/2006, Política, p. A10

Se prevalecer a bolsa de apostas que tira o sono dos ministeriáveis, a proclamada "despetização" do segundo mandato de Luiz Inácio Lula da Silva não terá passado de um sonho de uma noite de verão. Pelo menos 17 candidatos aos 34 ministérios e órgãos cujos titulares têm status de ministro são do PT, que pressiona nos bastidores para não perder espaço nem influência, sobretudo para o PMDB, que se prepara para desembarcar uma cabeça-de-ponte dentro do governo de Lula.

O Congresso, que aos poucos retoma as atividades, após as eleições, é o canteiro das "plantações". Lula, particularmente, tem restringido ao máximo as conversas sobre os nomes da futura equipe, mas cada congressista ou auxiliar que deixa o Palácio do Planalto sempre sai com uma ou outra novidade que seria "bem vista" pelo presidente da República. A senadora Roseana Sarney, por exemplo, deixou o PFL e foi logo relacionada na lista dos ministeriáveis.

Seu nome é citado para a Cultura, Meio Ambiente e Cidades. A bancada do PMDB na Câmara reagiu imediatamente. Ela nem é do partido. Na realidade, deixou para negociar as duas coisas com o presidente: o partido e o ministério de destino, se for o caso. No PL, é dada como certa a volta de Alfredo Nascimento para os Transportes. Em conversa com auxiliares, Lula até já admitiu levar o senador eleito pelo Amazonas para o governo. Mas não nos Transportes, cuja gestão de Nascimento não tem em boa conta.

O presidente está particularmente aborrecido com as pressões internas do PT, sobretudo aquelas pela manutenção dos espaços, volta de políticos derrotados nas eleições e por mudanças na equipe econômica. "O PT já tem o cargo mais importante da República", disse Lula, numa alusão ao apetite demonstrado pelo partido. O presidente tenta costurar o ministério de modo a não ficar refém de nenhuma liderança partidária - aliada ou mesmo do PT, como hoje avalia ter ficado na formação do governo no final de 2002.