Título: Para Sarney, inexiste unanimidade no partido
Autor: Ulhôa, Raquel
Fonte: Valor Econômico, 10/11/2006, Política, p. A10

O senador José Sarney (PMDB-AP) afirmou ontem estar certo de que, mesmo sem unanimidade, o PMDB vai formalizar a decisão de participar de um governo de coalizão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, porque esse é o "pensamento dominante" no partido e, como tal, terá de ser respeitado por todos.

"Unanimidade não existe. O que tem é unidade, maioria, pensamento dominante. E no PMDB, o apoio ao presidente deve ser de mais de 90%", disse. Segundo Sarney, a razão pela qual o PMDB ainda não formalizou a decisão de apoiar Lula é a oposição do presidente da legenda, deputado Michel Temer (SP). "A presidência do partido tem posição historicamente contrária e há o desejo de todos nós de não feri-lo", afirmou.

Sarney espera que o PMDB se reúna ainda em novembro para formalizar o apoio a Lula. Mas não sabe qual seria a instância partidária mais adequada. Temer tem defendido a unidade partidária, desde que a seja tomada pelo Conselho Político, formado por governadores, ex-presidentes do partido, presidentes de diretórios estaduais e outras lideranças nacionais da legenda. O conselho é instância superior à Comissão Executiva Nacional.

A expectativa dos pemedebistas é que Lula chame as bancadas da Câmara e do Senado até o fim do mês para apresentar sua proposta à legenda. Até agora, há especulações e pretensões - partidárias ou pessoais. O partido espera ficar responsável por setores estratégicos do governo, e não apenas ocupar cargos. No primeiro mandato, pessoas foram indicadas pelos aliados de Lula no PMDB para ocupar ministérios (três) e outros cargos. Mas o presidente nunca pôde contar com o apoio fechado do partido no Congresso.

Para garantir governabilidade tranqüila no segundo mandato, Lula quer contar com o PMDB unido, e não mais com segmentos da legenda. O partido tem o maior número de deputados, senadores e governadores. O presidente oferece participação em um "governo de coalizão" e quer uma interlocução institucional, que represente o partido como um todo e não apenas segmentos da legenda. O grupo aliado a Lula sempre teve o comando de Sarney, do presidente do Senado, Renan Calheiros (AL), e, na Câmara, do ex-ministro Eunício Oliveira (CE) e do deputado Jader Barbalho (PA). Hoje, ganhou o reforço do deputado Geddel Vieira Lima (BA), que aderiu por questões eleitorais da Bahia, onde apoiou a eleição do petista Jaques Wagner.

Para tentar unificar o partido, o desafio dos governistas é acomodar todas as alas em cargos no governo ou em postos-chave do Congresso - como as presidências das Mesas da Câmara e do Senado. Até Temer deverá ser contemplado, em troca de deixar a presidência da legenda. Geddel e Eunício disputam internamente o cargo de presidente da Câmara. Mas a forte tendência de reeleição de Renan na presidência do Senado é um embaraço político para o PMDB comandar também a Câmara.

Outro desafio é compor com lideranças expressivas do PMDB, contrárias à adesão ao governo, como os ex-governadores Jarbas Vasconcelos (PE) e Joaquim Roriz (DF), recém-eleitos senadores. Lula pediu a interlocutores que negociem aproximação. A fase atual é de muita conversa, para se definir o tamanho do PMDB que apoiará Lula - que deverá ser proporcional à importância no governo.

A confiança em uma relação diferente entre o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o Congresso, sem a repetição dos erros do primeiro mandato, é a base para que o PMDB participe de um "governo de coalizão". A afirmação é do governador do Rio Grande do Sul, Germano Rigotto (PMDB), derrotado na disputa da reeleição. Rigotto encontrou-se ontem com o ministro da Fazenda, Guido Mantega, e à saída disse que seu partido deve ter posição definida sobre as reformas política e tributária e também sobre o pacto federativo.

Rigotto destacou que o PMDB tem as maiores bancadas no Congresso e, portanto, também tem grande responsabilidade com a governabilidade. Ressaltou que, em seu Estado, procurou colaborar com o presidente, sem pedir nem receber nada de Lula. "Isso não significou que tinha de ser inimigo do presidente". (Colaborou Arnaldo Galvão)