Título: Captações externas somam US$ 620 mi
Autor: Lucchesi, Cristiane Perini
Fonte: Valor Econômico, 10/11/2006, Finanças, p. C1

A bem-sucedida captação externa do governo federal, de US$ 1,5 bilhão, ajudou a abrir o mercado internacional para empresas e bancos brasileiros. A operação, realizada na terça-feira, teve demanda total de US$ 6 bilhões. A vitória democrata no Congresso americano ampliou ainda mais a janela de oportunidade: os juros dos títulos do Tesouro dos Estados Unidos de vencimento em dez anos, referência para o mercado de renda fixa no mundo todo, entraram em rota de queda, na expectativa de que o déficit fiscal será contido. Ontem, foram a 4,633% ao ano, na comparação com os 4,717% ao ano de sexta-feira.

A busca por títulos de maior risco e rendimento, como os de empresas brasileiras, se ampliou, diz Carlos Gribel, sócio-diretor da Queluz Securities. No total, há um volume de US$ 620 milhões em eurobônus brasileiros à venda neste momento. "O mercado externo está explodindo, literalmente", diz Paulo Sérgio Tenani, economista do UBS Wealth Management. "O fim das incertezas eleitorais no Brasil ajuda a estimular ainda mais os investidores externos a comprar papéis brasileiros", afirma Carlos Eduardo Schahin, diretor-executivo do Banco Schahin. A expectativa de ingressos de recursos ajudou a derrubar o dólar ontem, em 0,18%, para R$ 2,143.

O Banco Schahin teve de adiar por duas vezes sua operação de captação externa e até trocar o líder, do Dresdner Kleinwort para o Bulltick, por causa do excesso de oferta. Segundo Schahin, não fazia sentido o banco tomar US$ 100 milhões em dívida subordinada de nível 2 - que entra como capital no balanço da instituição financeira -, pois o banco só poderia usar para esse fim US$ 50 milhões. A dívida subordinada de nível 2 é limitada a 50% do capital de nível 1. Por ser mais arriscada - é a última a ser paga em um momento de falência -, essa dívida paga juros mais altos ao investidor. No caso, 10% ao ano pelo prazo de dez anos, com opção de resgate antecipado pelo emissor a partir do quinto ano.

"Eu pagaria mais, mas só poderia usar como dívida subordinada US$ 50 milhões", disse. Como o Dresdner insistia nos US$ 100 milhões, o Schahin resolveu trocar o líder para o americana Bulltick.

Sob a liderança do Dresdner Kleinwort, o BBM está com operação no mercado de no mínimo US$ 100 milhões em bônus de vencimento em 36 meses. O cupom (juro nominal) sugerido é de 7,75%, segundo a "Dow Jones Newswires".

O frigorífico Bertin reabriu operação realizada no início de outubro pagando juros menores. Captou mais US$ 100 milhões ontem, ampliando para US$ 350 milhões o valor dos papéis de vencimento em 5 de outubro de 2016, segundo o "IFR Markets". Os rendimentos pagos ao investidor pelo papel caíram de 10,25% ao ano no início de outubro para 9,710% ao ano. Os líderes são o Credit Suisse e o Morgan Stanley, com o Standard Bank como co-líder.

Já a Net Serviços de Comunicação está para sair em visita aos investidores para preparar o lançamento de títulos perpétuos (sem vencimento final), mas com opção de resgate antecipado pelo emissor a partir dos três anos, no valor de US$ 150 milhões. O líder da operação, segundo o "IFR Markets", é o Deutsche Bank.

Também estão com papéis à venda: 1) a exportadora de soja Imcopa, que vai lançar no mínimo US$ 100 milhões pelo prazo de vencimento em dez anos, sob a liderança do ING; 2) o frigorífico Marfrig, que vai captar US$ 100 milhões por dez anos, sob a liderança da Merrill Lynch e com juros em torno de 10% ao ano; e 3) o Paraná Banco, que lançou ontem US$ 20 milhões pelo prazo de dois anos com juros de 7,77% a 8,25% ao ano, sob a liderança da Queluz Securities.