Título: Comando dos bancos federais pode mudar
Autor: Ribeiro, Alex
Fonte: Valor Econômico, 10/11/2006, Finanças, p. C3

Com a decisão do presidente da BB DTVM, Nelson Rocha, de deixar o cargo, abre-se um período de definições sobre o comando dos dois principais bancos federais - o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal.

Rocha, que estava à frente da administradora de recursos de terceiros do Banco do Brasil, já comunicou sua decisão de sair ao presidente do banco, Rossano Maranhão. Ficará no cargo até que sejam definidas as mudanças ministeriais. Ligado ao ex-ministro da Fazenda Antônio Palocci, Rocha disse querer voltar à iniciativa privada.

Maranhão é outro que tem vários convites para trabalhar na iniciativa privada. Essa é, porém, apenas uma das variáveis que vão definir seu futuro no BB. Uma outra, mais importante, é se Guido Mantega permanecerá na Fazenda. Maranhão, indicado por Palocci, não tem bom entrosamento com o atual ministro.

Rossano se manteve no cargo apenas porque, após a saída de Palocci, estabeleceu um canal direto com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Com seu perfil técnico, Rossano promoveu a despolitização de algumas áreas do banco, que, sob comando do PT, foram foco de escândalos. Também ganhou proximidade com o presidente nas discussões do pacote para a redução dos juros e do "spread" bancário.

A avaliação de dentro do Banco do Brasil é que o processo de despolitização da instituição não terá volta e que, por isso, a tendência é que seja nomeado outro nome técnico, na hipótese de ser confirmada a saída de Rossano. Teria ficado claro para o governo que é grande o risco do uso político de um banco com capital aberto, com ações negociadas em mercado.

Já na Caixa Econômica, a situação é um pouco diferente - a instituição tem capital fechado e alguma tradição em empregar quadros políticos em sua diretoria. Dependendo do arranjo político negociado por Lula, a presidência da instituição, hoje ocupada pela funcionária de carreira Maria Fernanda Ramos Coelho, poderá ser entregue a algum partido da base aliada.

Outra possibilidade é a a presidência da Caixa ficar com o próprio PT - neste caso, com algum nome próximo da ex-prefeita de São Paulo Marta Suplicy. Ela é cotada para o Ministério de Cidades, e poderia levar junto a Caixa Econômica, que é o braço operacional das políticas de habitação, saneamento e desenvolvimento urbano. O presidente anterior da Caixa, Jorge Mattoso, era indicado por Marta, embora também tivesse ligações pessoais com Lula.

Antes do anúncio de sua saída da BB DTVM, o nome de Nelson Rocha era cogitado para a Caixa Econômica. Com experiência na área privada e um trabalho elogiado na BB DTVM, pesa contra ele a proximidade com Palocci. Palocci esteve diretamente envolvido na queda de Mattoso - ambos quebraram o sigilo bancário do caseiro Francenildo dos Santos Costa.

Se, justamente para evitar o risco de novos escândalos, a opção for por um nome técnico na presidência Caixa, Maria Fernanda poderá ser mantida. Mas poderia haver mudanças em vice-presidências, algumas controladas pelo PTB, PMDB e PT.

Sandro Kohler Marcondes, diretor comercial do Banco do Brasil, disse que ficou sabendo a saída de Nelson Rocha pela imprensa. Ele disse não saber se haverá novas mudanças no comando do banco.

Sobre o presidente da BB DTVM, ele disse que Rocha conseguiu transformá-la na maior gestora de recursos da América Latina.

(Colaboraram Altamiro Silva Júnior e Catherine Vieira)