Título: Agropecuária reage e RS pode crescer até 3%
Autor: Bueno, Sergio e Lima, Marli
Fonte: Valor Econômico, 09/11/2006, Brasil, p. A4

O cenário não é nenhuma maravilha, mas já bem melhor do que o de 2005, quando a combinação dos efeitos da seca sobre a agricultura e do câmbio sobre as exportações provocou uma queda de 4,8% no Produto Interno Bruto (PIB) do Rio Grande do Sul, o pior resultado desde 1995. Em 2006 a produção agrícola se recuperou, as taxa negativas de desempenho acumuladas nos meses anteriores começaram a recuar em maio na indústria e em julho no varejo, o desemprego na região metropolitana de Porto Alegre cai desde abril e a arrecadação de ICMS subiu 7,7% em termos reais até setembro.

Ainda não há previsões precisas, mas as estimativas para o crescimento do PIB estadual deste ano oscilam de zero a 3%, graças principalmente ao setor agropecuário, que representa cerca de 16% do produto estadual. Depois da quebra de mais de 70% em 2005, por exemplo, a colheita de soja cresceu 209% em 2006, para 7,5 milhões de toneladas, enquanto a safra de milho avançou 205%, para 4,5 milhões de toneladas.

A indústria, que representa 45% do PIB gaúcho, acumula queda de 3,52% na produção física até agosto em comparação com o mesmo intervalo do ano anterior, conforme o IBGE. Mesmo assim, a tendência é levemente favorável, porque na relação entre os períodos acumulados de 12 meses o recuo havia sido de 3,65%.

Segundo a Federação das Indústrias do Estado (Fiergs), o desempenho do setor passou de 9,3% negativos no acumulado até abril para 6,3% também negativos nos nove primeiros meses. O ano deve fechar com uma retração de 4,5%, um número melhor do que a queda de 5,24% registrada em 2005.

"O desempenho dos últimos meses sinaliza uma média melhor no ano e deve tirar a indústria do fundo do poço de 2005", aposta o presidente da entidade, Paulo Tigre. De acordo com a Fiergs, os segmentos com resultados positivos são aqueles mais voltados ao mercado interno, como têxteis e materiais elétricos e eletrônicos, borracha e bebidas. Já os setores fortemente vinculados às exportações, como fumo, alimentos, calçados, máquinas e equipamentos acumulam quedas entre 8,6% e 10%.

O ponto fraco da indústria gaúcha continua sendo as exportações devido à valorização do real. Segundo o economista Adalberto Maia Neto, da Fundação de Economia e Estatística (FEE), vinculada à Secretaria do Planejamento do Estado, as vendas externas do setor cresceram 4,5% até setembro, para US$ 7,8 bilhões, enquanto em todo o país os embarques industriais avançaram 12,95%, para US$ 78,1 bilhões. Mas o pior é que com a variação cambial este desempenho se traduz numa queda nas receitas em reais de 11%, ou R$ 2,2 bilhões, calcula a Fiergs.

As exportações totais do Rio Grande do Sul cresceram 12,2% nos nove meses, para US$ 8,7 bilhões, e as brasileiras avançaram 16,1%, para US$ 100,7 bilhões. O produto com melhor desempenho foi a soja, que graças à recuperação da safra, registrou embarques de US$ 612,7 milhões. Uma alta de 588,5%, de acordo com a FEE, proporcionada pelo aumento de 659% nos volumes, já que os preços médios da commodity recuaram 9,3%.

A taxa de desemprego na região metropolitana de Porto Alegre, que caiu do pico de 15,5% registrado neste ano, em abril, para 14,3% em setembro, é outro indicativo favorável para a economia gaúcha.

No varejo, a estimativa da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) de Porto Alegre é que o volume de vendas em 2006 empate, em valores nominais, com o de 2005, que fechou com queda de quase 2% em relação ao ano anterior. "O primeiro semestre fechou com queda de 1,3%, mas julho, agosto e agora outubro foram bons", diz o presidente da entidade, Vilson Noer.

Em todo o Estado, as vendas do varejo acumulam alta de 0,9% até agosto, calcula a FEE. No acumulado de 12 meses, o desempenho melhorou desde junho, quando os índices negativos recuaram de 0,6% em julho para 0,4% e depois para 0,1% em agosto.

O aquecimento do nível de atividade das empresas tem reflexos ainda no Banco do Estado do Rio Grande do Sul (Banrisul), que aumentou em 10,7% o saldo da carteira de crédito para pessoas jurídicas em setembro na comparação com setembro de 2005. O estoque subiu para R$ 2,1 bilhões e deve chegar a R$ 2,3 bilhões no fim do ano, acumulando uma alta de 11%, prevê o vice-presidente da instituição, Urbano Schmitt. "Um crescimento acima de 15% já mostraria que a economia se movimenta com maior vigor", explica Schmitt.

O Tesouro do Estado também está arrecadando mais ICMS neste ano. Até setembro foram R$ 8,8 bilhões, ante R$ 8,2 bilhões nos nove primeiros meses de 2005 em valores corrigidos pelo IGP-DI, mas o diretor da divisão da receita pública da Secretaria da Fazenda, Luiz Antônio Bins, atribui o crescimento mais às ações de fiscalização e cobrança do Estado do que ao desempenho da economia.

Para 2007, as estimativas são otimistas. O presidente da Fiergs, Paulo Tigre, espera uma recuperação maior da indústria gaúcha, mesmo que sobre uma base ainda reduzida. O presidente da FEE, Antônio Carlos Fraquelli, acredita que o Estado tende a se beneficiar do processo de ajuste pelo qual já passaram as empresas exportadoras para se adequar ao câmbio atual, combinado com a manutenção do cenário de crescimento mundial. O economista ainda espera que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva execute reformas "que não podem mais tardar", como a tributária, o que teria reflexos positivos para a economia do Estado.