Título: Câmbio ainda afeta indústria catarinense
Autor: Bueno, Sergio e Lima, Marli
Fonte: Valor Econômico, 09/11/2006, Brasil, p. A4

Os indicadores da economia de Santa Catarina mostram uma leve melhora nos primeiros meses do segundo semestre, mas economistas ainda acham que é cedo para dizer que o pior da crise já passou. O real valorizado em relação ao dólar, um dos principais problemas para um Estado que tem forte indústria exportadora, continua afetando setores como o alimentício, moveleiro, têxtil e de calçados, além de haver ainda problemas no agronegócio, que sofre com o embargo russo às carnes suínas.

Os indicadores mostram melhora na confiança dos empresários, aumento de contratações e crescimento bem modesto na produção industrial, além de aumento nas vendas do varejo. "Mas a melhora até agora foi muito discreta. Ainda não é possível saber se terá continuidade", pondera Glauco José Côrte, vice-presidente da Fiesc.

De acordo com Côrte, muitas indústrias começaram a se desfazer de estoques com promoções e isso teve efeito nos dados das vendas industriais de agosto, com aumento de 6,38% em relação a julho. Em setembro, mês com dias úteis a menos, elas voltaram a apresentar retração. Segundo a Federação das Indústrias de Santa Catarina (Fiesc), houve queda de 3,51% na comparação com o mês anterior, e de 0,8% em relação a setembro de 2005. A produção industrial ainda é negativa, mas a queda está diminuindo. Em agosto, ela cresceu 2% em relação a agosto de 2005. No acumulado no ano, há queda de 0,1%, resultado melhor do que o de julho, negativo em 0,4%.

Em contratações, houve recentemente uma leve melhora: grandes e médias indústrias que apareciam demitindo em julho, iniciaram contratações em agosto e setembro. Houve variação positiva de 0,12% em agosto e de 0,23% em setembro ante uma contração de 0,02% em julho.

A indústria de carnes é uma das mais atingidas até agora não só pela conjuntura desfavorável às exportações, mas também por questões políticas, como já é tratado o embargo da Rússia aos suínos produzidos no Estado. Há mais de um ano Santa Catarina não vende para o país que era seu principal parceiro comercial no segmento.

No comércio, a situação é similar: nota-se uma melhora das vendas, impulsionada pela sazonalidade do fim do ano, mas também por esforços do setor, com promoções. De acordo com o presidente da Fecomércio-SC, Antônio Edmundo Pacheco, os números até julho mostravam que não haveria crescimento em relação a 2005. Em setembro, contudo, houve alta de 4% e no Dia das Crianças também se viu uma recuperação: 80% dos comerciantes disseram que venderam igual ou mais do que na mesma data em 2005.

"Acho que no fim vamos ter um ano melhor do que prevíamos. Não esperava crescimento das vendas. Agora já espero algo entre 4% e 5%", diz Pacheco. No entanto, o comércio deverá retrair as contratações de fim de ano. Para o executivo, não há grande euforia no setor. Ele já espera queda de cerca de 50% nas contratações de temporários.

Para o economista Ricardo de Castro, da Universidade do Vale do Itajaí (Univali), a economia catarinense entrou em uma fase de estabilidade. Ele acredita que há uma recuperação do mercado de frangos fora do país, até porque as grandes ofertas de preços no mercado interno não estão mais acontecendo.

Ele destaca, no entanto, que não dá para se dizer que já há melhoras consistentes nos indicadores da economia de SC. Ele pondera que entre as principais conseqüências de um ano fraco como o de 2006 está o fato de que boa parte das indústrias não fez investimentos ao longo do ano e isso tem efeito em cascata na economia no longo prazo, afetando trabalho, renda e vendas do comércio.