Título: Lula confirma PMDB na liderança do governo
Autor: Costa, Raymundo e Ulhôa, Raquel
Fonte: Valor Econômico, 09/11/2006, Política, p. A8

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva iniciou uma negociação combinada com o PMDB para ampliar o espaço do partido no governo e reeleger o presidente da Câmara, deputado Aldo Rebelo. O presidente também pediu uma manifestação pública de unidade da sigla, para melhor negociar a redução do espaço do PT na Esplanada dos Ministérios. Como gesto de boa vontade, confirmou o senador Romero Jucá (RR) como novo líder do governo Senado, no lugar do petista Aloizio Mercadante. Jucá já exercia interinamente a função.

A manifestação pública de unidade do PMDB deve se dar por meio de um documento programático no qual o partido concorda em participação de um governo de coalizão com o PT. O texto deve estabelecer compromissos comuns com o crescimento econômico e a aprovação de projetos como a reforma tributária e o Fundo de Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb). A manifestação do PMDB é importante para Lula sinalizar aos mercados que disporá de maioria estável no Congresso e para negociar com o PT a ampliação do espaço pemedebista. O PT resiste à idéia justamente com o argumento segundo o qual o PMDB é um partido dividido, com o qual o governo não poderia contar em horas decisivas.

O deputado Jader Barbalho (PA) assumiu o papel de principal negociador do PMDB junto ao governo. Ele esteve duas vezes com Lula, nas últimas 48 horas. Sigilosamente, na noite de terça-feira, e formalmente na manhã de ontem. Na primeira, apresentou o quadro das negociações internas do PMDB. Ontem, ouviu as respostas de Lula.

A ala oposicionista do PMDB foi praticamente reduzida a zero, após as eleições. Mas o partido trabalha para que todas as alas sejam contempladas de alguma forma. O caso mais exemplar é o do deputado Michel Temer, presidente da sigla, para o qual é procurada uma saída honrosa. "É o único problema. Ele não quer sair escorraçado", diz um dirigente pemedebista. Essa saída poderia ser a indicação de Temer para um tribunal superior ou o deputado indicar aliados para uma ou duas diretorias de estatais. Em um almoço em Porto Alegre, o PMDB gaúcho descartou a hipótese de voltar a fazer oposição a Lula. Conta com a nomeação do ex-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) Nelson Jobim para o ministério, provavelmente o da Justiça.

Dos sete governadores eleitos pelo PMDB, havia dúvida sobre a posição de dois: Luiz Henrique, de Santa Catarina, e André Puccinelli, de Mato Grosso do Sul. Puccinelli já avisou a direção partidária que não fará oposição a Lula. Luiz Henrique se dispôs a patrocinar e sediar a reunião dos novos governadores do PMDB, na qual o apoio ao governo deve ser ratificado. Sérgio Cabral deve assumir a bancada de 10 deputados eleitos pelo Rio, inclusive os cinco apoiados pelo ex-governador Anthony Garotinho.

Ao eleger a maior bancada na Câmara, o PMDB ganhou o direito de reivindicar a presidência da Casa. Dois deputados disputam o cargo: Geddel Vieira Lima (BA) e Eunício Oliveira (CE). No relato da conversa com Lula que fez aos dirigentes partidários, Jader disse que o presidente considera a reeleição de Aldo Rebelo a "melhor solução". A cadeira de Aldo é o maior trunfo que o PMDB da Câmara tem para negociar uma participação maior no ministério - duas ou três Pastas. Os senadores já controlam duas: Comunicações e Minas e Energia.

O PMDB tem uma boa relação com Aldo Rebelo, mas procura valorizar a negociação. Entre as restrições apresentadas, o fato de o deputado ser do PCdoB, sigla que não conseguiu ultrapassar a cláusula de desempenho nas eleições, e de Aldo ter efetivamente entrado na campanha de Lula, inclusive participando de comícios - Renan Calheiros, presidente do Senado, foi a poucas reuniões do conselho político da campanha de Lula e viajou com o presidente apenas para o último debate na televisão. O presidente não quer errar na eleição para a presidência da Câmara, como já admitiu que foi seu maior erro ter permitido a eleição do ex-deputado Severino Cavalcanti (PP-PE) na atual legislatura.

Além disso, permeia as conversas sobre a sucessão na Câmara o estado de saúde do vice-presidente José Alencar, que eventualmente pode ficar impedido de assumir a Presidência no lugar de Lula. Aldo é um aliado fiel do presidente, é um nome digerível para o PMDB, que dificilmente abriria mão do cargo para um deputado do PT. Arlindo Chinaglia (SP) reivindica o posto. No raciocínio pemedebista, a eleição de um petista seria ruim para a relação que Lula promete ter com a oposição.

Além de maior espaço no governo, o PMDB avalia outra vantagem, se abrir mão do cargo para Aldo Rebelo: evita uma disputa fratricida na bancada. Na negociação em curso, Geddel Vieira Lima, nome mais forte entre os deputados, poderia ser chamado para o ministério. Jader poderia ser uma opção, mas não tem demonstrado interesse no cargo e nem na presidência do PMDB. Pode ser líder na Câmara. Se Jobim ficar fora do governo, os gaúchos devem apresentar sua candidatura a presidente do partido, o que os "governistas históricos" ainda demonstram dificuldades de aceitar.

Lula atuou com discrição na substituição de Aloizio Mercadante da liderança do governo no Senado. A operação de convite a Romero Jucá e de explicar a Mercadante as razões da mudança foi conduzida pelo secretário-geral da Presidência, ministro Luiz Dulci. Trata-se de uma sinalização importante para o PMDB, pois demonstraria a disposição de Lula em efetivamente tocar um governo de coalizão. O PT do Senado já reivindicava o cargo para o partido. O nome mais cotado era o do senador Tião Viana (AC).