Título: Filiado ao PT há 23 anos, ministro assumiu em 2005
Autor: Lyra, Paulo de Tarso e Zanatta, Mauro
Fonte: Valor Econômico, 09/11/2006, Política, p. A9

O ministro da Educação, Fernando Haddad assumiu a pasta em 29 de julho de 2005, quando o então titular, Tarso Genro, deixou o posto para presidir o PT, então imerso na maior crise de sua história.

Aos 43 anos, suas relações com o partido vêm desde 1983, quando ainda cursava Direito na USP e se filiou à legenda. Embora nela nunca tenha ocupado cargos executivos, sua carreira acadêmica o credenciou a entrar no serviço público. Especializou-se em direito civil e em economia política. Na USP, tornou-se mestre em economia, com a tese "O caráter sócio-econômico do sistema soviético", e doutor em filosofia, onde desenvolveu a tese "De Marx a Habermas - O materialismo histórico e seu paradigma adequado". Na mesma universidade, deu aulas de Teoria Política Contemporânea no Departamento de Ciência Política. Foi ainda consultor da Fundação de Pesquisas Econômicas (Fipe) e trabalhou por um período na iniciativa privada, como analista de investimento do Unibanco.

Com a vitória de Marta Suplicy nas eleições de 2000 em São Paulo, foi convidado por João Sayad a ser seu chefe de gabinete da Secretaria de Finanças. Neste cargo que desenvolveu, junto com Sayad, a idéia de oferecer bolsas de estudos para alunos carentes em universidades privadas por meio de isenção fiscal, que mais tarde no governo Lula seria batizado de Prouni. Não chegou a implementá-lo na capital paulista, mas carregou-o a Brasília, onde chegou em 2003 para exercer a função de assessor especial do então ministro do Planejamento, Guido Mantega. No cargo, foi responsável pela elaboração de toda a parte legal das parcerias público-privadas (PPPs).

Em janeiro de 2004, com a entrada de Genro no lugar de Cristovam Buarque no Ministério da Educação, Haddad foi convidado para a Secretaria Executiva, o segundo cargo na hierarquia interna. Ambos nunca chegaram a ser amigos, mas tinham uma afinidade intelectual, refletida nas correspondências que trocavam, onde falavam sobre livros. Assim como Genro, Haddad também escreveu algumas obras: "Em Defesa do Socialismo", "Desorganizando o Consenso", "Sindicalismo, Cooperativismo e Socialismo", "O Sistema Soviético - Relato de Uma Polêmica" e "Trabalho e linguagem".

Como secretário-executivo, ajudou a coordenar o projeto de reforma universitária, a legislação do Fundeb e o desenvolvimento do Prouni. A ida de Genro ao PT deu a Haddad o comando do ministério. Assumiu sob duas bandeiras. A da continuidade das realizações de seu antecessor, focada nos programas Prouni, Universidade Aberta, Prova Brasil e o Fundeb. E a da "faxina legislativa", uma revisão de toda a legislação da área de ensino superior - como portarias, decretos e resoluções, com o propósito de unificar as regras educacionais à luz da proposta de reforma universitária.

Algumas medidas neste sentido foram anunciadas, como a punição para os cursos universitários que forem reprovados no Exame Nacional de Avaliação do Desempenho dos Estudantes (Enade) e a inclusão dos cursos tecnológicos no Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (Sinaes) - o que possibilitará uma qualidade maior no monitoramento dessas graduações.