Título: Lula é dúbio ao confirmar Haddad na Educação
Autor: Lyra, Paulo de Tarso e Zanatta, Mauro
Fonte: Valor Econômico, 09/11/2006, Política, p. A9

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva confirmou ontem, de maneira dúbia, a permanência do ministro da Educação, Fernando Haddad, como titular da pasta no segundo mandato petista. É o primeiro nome de ministro anunciado publicamente pelo presidente.

Apesar de afirmar que ainda não havia decidido quem sai e quem fica no governo, Lula foi claro durante discurso a estudantes no Centro de Convenções. "Vamos denominar o dia de hoje como o 'Dia do Fico' para o Fernando Haddad", disse. Depois do discurso, o presidente ensaiou um recuo: "Eu ainda não pensei num único nome, nem em quem fica, nem em quem vai entrar. Temos ainda dois meses de mandato para cumprir. O próximo começa apenas em 1º de janeiro". Sobre a expressão "Dia do Fico", Lula afirmou que estava respondendo "a uma brincadeira que o pessoal fez aí", disse, referindo-se a estudantes.

Em entrevista depois da confirmação de Haddad, Lula disse que a composição do novo ministério não será "uma partilha, uma salada de frutas". Acrescentou que pretende "construir alianças" e discutir "com seriedade, com todos os partidos", sobre o assunto. Repetiu que não vai se pautar pela mídia. "Na hora que eu tomar a decisão, vocês vão saber. Não vão ser as manchetes 'sai fulano, entra beltrano', que vão me fazer tirar ou colocar um ministro".

Lula não deixou claro qual será a participação do PT no seu novo governo, mas deixou implícito que o partido não deve perder muito espaço em relação ao primeiro mandato. "O PT vai ter a participação no governo equivalente ao tamanho do PT. Aliás, o PT já tem o cargo mais importante da República, que é o presidente da República", disse.

Mais cedo, em reunião com o governador reeleito de Mato Grosso, Blairo Maggi, e o governador do Mato Grosso do Sul, Zeca do PT, o presidente afirmou que pretende avaliar todos os ministérios, "de cima a baixo", antes de decidir sobre as eventuais alterações. Lula afirmou que, antes de determinar mudanças, fará uma minuciosa avaliação do desempenho de pessoas e de programas no governo. Ao governador, que levava uma extensa lista de cargos federais que gostaria de comandar, Lula limitou-se a dizer que as demandas políticas só serão discutidas em dezembro.

No encontro com Blairo Maggi, o presidente Lula confirmou uma visita a Mato Grosso na próxima semana. Lula vai inaugurar, em Barra do Bugres, a 170 km de Cuiabá, a primeira planta de biodiesel do mundo construída de forma integrada a uma usina. A unidade pertence à Barrálcool. Único líder rural a apoiar Lula, Maggi conseguiu ontem a delegação da União para fazer o licenciamento ambiental da BR 163. As obras devem começar em abril de 2007. Também arrancou um acordo com o Ministério dos Transportes para desviar a BR 158 das terras indígenas reclamadas por posseiros na Justiça.

Maggi deixou a reunião comentando a disposição do presidente. "Ele está muito animado e nem um pouco preocupado com a montagem do seu próximo governo", disse.

Desde que retornou do descanso na Bahia, onde esteve no feriado de Finados, o presidente vem cumprindo uma agenda extensa de compromissos. A maioria deles de encontros com governadores aliados. Ontem, Lula também se reuniu com um representante da oposição: o governador de São Paulo, Cláudio Lembo (PFL).

O pefelista entrou e saiu do Palácio do Planalto sem falar com a imprensa. A Presidência não se manifestou sobre o diálogo até o momento. "O governador não pediu autorização para o PFL e nem precisaria. Certamente ele deve ter tratado de algum assunto do interesse do Estado", arriscou o líder da minoria na Câmara, deputado José Carlos Aleluia (PFL-BA). (Com agências noticiosas)