Título: EUA dizem que não mudarão estratégia comercial
Autor: Balthazar, Ricardo
Fonte: Valor Econômico, 09/11/2006, Internacional, p. A13

A retomada e possível salvação da Rodada Doha de negociações comerciais depende sobretudo de novas ofertas ambiciosas dos parceiros para criar uma real expansão do comércio em agricultura, indústria e serviços. É basicamente essa a mensagem que a diplomacia dos EUA vem dando, mesmo antes da eleição legislativa que deu a maioria aos democratas, vistos como protecionistas.

O sentimento geral na OMC é de preocupação, por se reconhecer que os democratas não darão um TPA de graça para Bush, mas a idéia é aumentar a pressão para acelerar a rodada por meio de reuniões técnicas. O diretor-geral da OMC, Pascal Lamy não pretende convocar uma reunião ministerial, ao menos por enquanto.

Na segunda-feira, na véspera da eleição, o embaixador dos EUA junto à OMC, Peter Allgeier, participou de uma conferência com acadêmicos e jornalistas do Japão, onde mostrou suficiente segurança sobre pouca ou nenhuma mudança na estratégia americana na organização.

Allgeier insistiu que não poderia prever o resultado da eleição, mas certamente podia prever uma coisa: que, até pela composição do Congresso, os interesses comerciais americanos não iriam mudar repentinamente.

"Se tínhamos interesse em mais acesso para nossas exportações de carne bovina e de frango, não quer dizer que depois vamos mudar para outro produto", disse. "Estamos comprometidos com o sucesso de uma rodada ambiciosa."

O embaixador, respeitado como um dos melhores negociadores americanos na cena comercial, destacou quatro condições para a retomada "confiante" da rodada, a fim de conduzir à sua conclusão.

Em primeiro lugar, é necessário que a União Européia e o G-10, grupo dos qual fazem parte Japão, Coréia do Sul e Noruega, melhorem "substancialmente" suas propostas de cortes nas tarifas agrícolas. A UE já chegou a aceitar uma redução de 50%. Os EUA exigem 66%, mas poderiam aceitar por volta de 59%, segundo fontes. Além disso, os EUA, como o Brasil e outros exportadores, querem restringir a possibilidade da caracterização de produtos sensíveis, com cortes tarifários menores.

Segundo, Washington cobra de emergentes, como a Índia, também uma abertura importante na área agrícola. "É necessária alguma liberalização também para esses produtos", disse Allgeier.

A terceira exigência é sobre os subsídios domésticos agrícolas. O representante americano alega que os EUA aceitam fazer cortes importantes, mas que a UE deveria fazer o mesmo, até porque concede o dobro dessas subvenções que distorcem o comércio.

Em quarto lugar, os EUA esperam que Brasil e Índia aceitem o compromisso de cortar as alíquotas de importação de produtos industriais abaixo das tarifas que hoje são aplicadas efetivamente. No caso do Brasil, isso significa baixar para menos de 10% na média.