Título: Empresários brasileiros falam em esforço maior de aproximação com EUA
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 09/11/2006, Internacional, p. A13

Os empresários brasileiros decidiram aproveitar o segundo mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para reforçar as pressões por maior aproximação entre Brasil e EUA. Um dia após a publicação de uma artigo do presidente da CSN, Benjamin Steinbruch, em defesa de um reforço oficial nas relações entre os dois países, o Conselho Empresarial Brasil-EUA divulgou ontem uma pauta de reivindicações por uma "agenda estratégica" bilateral. A Câmara Americana de Comércio também prepara uma ofensiva em favor da retomada das negociações de comércio entre Brasil e EUA.

"A percepção, na sociedade, do que se passa entre o Brasil e os EUA não corresponde à intensidade da relação entre os dois países", queixou-se o presidente da Câmara Empresarial Brasil-Estados Unidos, Henrique Rzezinski, vice-presidente de Reações Externas da Embraer. O governo tem de reconhecer a "importância diferenciada dos EUA" e adotar estratégias para extrair mais benefícios da crescente interdependência econômica entre os dois países, afirma o documento divulgado ontem pela Câmara. "Queremos mecanismos de participação do setor privado", disse.

Os empresários propõem que os dois países estabeleçam uma "agenda" de cinco temas onde os governos poderiam cooperar, com metas, prazos e atribuições de responsabilidades. A retomada das negociações por um acordo de livre comércio, por meio da Área de Livre Comércio das Américas é um dos temas principais - embora o próprio Rzezinski reconheça que não interessa ao Brasil o modelo de negociações adotado pelos EUA com outros países da região, em que as medidas de redução de barreiras comerciais tem menos importância que a adoção de disciplinas comuns, como novas normas de proteção a marcas e patentes e fim de vantagens a empresas nacionais nas compras de governo

"Não somos a favor de uma Alca por princípio, mas de uma que sirva aos interesses brasileiros", ressalvou Rzezinski. "O fato de os EUA tenham uma posição não deve nos impedir de trabalhar para modificar essa posição".

Na agenda proposta ao governo, os empresários crêem ser possível, também, a cooperação bilateral na reforma da OMC - tema em debate na atual rodada de negociações comerciais, mas no qual EUA e Brasil divergem em pontos como a proposta brasileira de mudar o acordo de subsídios, para facilitar políticas industriais dos países em desenvolvimento. "É uma agenda difícil, mas temos de estimular contatos entre setores americanos e brasileiros para reabrir o processo negociador", diz Rzezinski.

Na agenda do Conselho Empresarial Brasil-EUA, os empresários consideram possível, ainda, um programa de cooperação no campo da energia, para produção e comercialização do etanol (algo já em discussão pelos dois governos), a cooperação política na América do Sul e acordos para facilitar negócios das empresas dos dois países. (SL)