Título: China joga todo seu peso e elege nova diretora da OMS
Autor: Moreira, Assis
Fonte: Valor Econômico, 09/11/2006, Internacional, p. A15

A China começa a exercitar seu poder na cena multilateral. Margaret Chan, 59, foi eleita ontem para a direção-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), tornando-se a primeira representante de Pequim a dirigir uma agência das Nações Unidas.

O governo chinês fez dessa eleição um teste sobre seu papel futuro nas instâncias internacionais e não poupou esforços. Uma conferência para aumentar a ajuda a países africanos, na semana passada, foi vista como um dos trunfos para garantir 7 dos 34 votos do comitê executivo.

Na rodada final, entre a representante chinesa e o candidato mexicano Julio Frenk, o Brasil optou pela primeira. Na véspera, enquanto os brasileiros evitavam revelar o voto, um diplomata chinês já dizia que o apoio do Brasil era certo, como pagamento pelo voto chinês ao candidato brasileiro na Organização Mundial do Comércio, ano passado.

Curiosamente, hoje será a vez da eleição da diretoria da União Internacional de Telecomunicações (UIT), entidade que tem ambição de coordenar a internet. Um dos cinco candidatos é o brasileiro Roberto Blois. A diplomacia brasileira acha que ele tem chances justamente porque conta com o apoio de toda a América Latina.

A China, por sua vez, prefere um representante de país desenvolvido - um suíço ou um alemão - , porque assim seu próprio candidato terá chance de obter a vice-diretoria como representante de nações em desenvolvimento.

Havia 13 candidatos para a OMS. Sobraram cinco para ontem. Após quatro rodadas, a candidata da China bateu o mexicano por 24 votos a 10.

Margaret Chan não tem nada de burocrata chinês. Na verdade, ela é de Hong Kong. Formou-se em medicina no Canadá, foi ministra da saúde de Hong Kong.

Um de seus principais desafios, em 2003, foi justamente combater doenças como a síndrome respiratória aguda grave (Sars, na sigla em inglês). Quando ocorreu o surto de Sars, ela criticou a falta de informações vindas da China continental, onde ele havia começado.

Em seguida, ela assumiu um cargo de direção na OMS e tornou-se a principal responsável na luta contra a gripe aviária. Com a morte súbita do sul-coreano Lee Jong-wook, em maio, a China viu a ocasião para ter papel mais importante em agências das Nações Unidas.

Simpatizantes da candidatura de Chan diziam que a eleição dela estreitaria as relações entre a OMS e a China, que é uma importante frente de batalha contra novas doenças

Chan, que terá um mandato de cinco anos, vai dirigir um orçamento bienal de US$ 3,3 bilhões, em meio a demandas urgentes por reformas e desafios envolvendo pobreza, novos vírus, riscos ecológicos.

Mais sobre a Organização Mundial de Saúde no site www.who.org