Título: Produção industrial de setembro desaponta
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Fonte: Valor Econômico, 09/11/2006, Opinião, p. A16

Em setembro, o nível de produção da indústria voltou ao que era em junho. Ele decresceu 1,4% em relação a agosto e deu um banho de água fria nas expectativas de um crescimento acima dos 3% em 2006. O ano pode fechar com a economia andando a passos de tartaruga, apenas um pouco mais velozmente que os 2,3% de 2005. Há uma conjunção de fatores favoráveis, mas eles não estão sendo suficientes para empurrar as atividades produtivas com mais força.

Ao que tudo indica, outubro não deverá fugir dos padrões de uma recuperação tímida, como apontaram diversos empresários ouvidos pelo Valor (6 de novembro). A indústria está quase dividida ao meio de acordo com o nível de atividade. Em setembro, 12 entre os 23 setores industriais pesquisados pelo IBGE apontaram queda na produção em relação a agosto. Mas se o dado do mês for comparado ao de setembro de 2005, há 15 setores em alta em relação a 27 pesquisados. Em setembro houve um recuo em todas as categorias de uso, sendo que é significativo que a maior queda ocorra nos bens duráveis (4,4%), que dependem de uma oferta de crédito que ainda cresce com vigor, ainda que a greve de algumas montadoras explique a derrocada de produção de veículos, que individualmente mostrou a maior redução - 9,3%. Para os bens semiduráveis e não-duráveis, que haviam avançado 1% em julho e agosto, houve agora um recuo de 0,2%. Já os bens de capital tiveram produção menor, interrompendo a série de dez meses positivos.

É certo que as taxas de juros continuam muito elevadas e poderiam ter caído mais, pois a economia cresce apenas moderadamente e a inflação está abaixo do centro da meta perseguida, de 4,5%. Ocorre que a taxa básica já foi reduzida em 6 pontos percentuais desde setembro passado e os efeitos do corte deveriam estar acelerando a produção. Isso não está acontecendo porque as importações começam a se fazer sentir com peso para reduzir a valorização cambial e criar um novo equilíbrio. O valor exportado diminuiu, embora as exportações cresçam e estejam sustentando bom ritmo de atividade em vários setores. Mas o aumento de importações puxa para baixo indústrias que dependem especialmente do consumo doméstico, como têxteis, vestuário etc. Isso explica em parte a desafinação do crescimento entre os setores industriais. A redução dos juros ajudará o movimento de reequilíbrio, mas ela é insuficiente porque tende a afetar mais rapidamente o fluxo financeiro que o de mercadorias.

O aumento de renda deveria se refletir em um desempenho marcante dos bens semi-duráveis e não-duráveis, mas os importados satisfizeram parcela dessa demanda. De janeiro a setembro, em relação ao mesmo período de 2005, os maiores recuos nestes segmentos foram em vestuário (-6,78%) e calçados (-4,69%). O setor têxtil praticamente não cresceu (0,07%) e o de alimentos avançou pouco. Nos duráveis algo semelhante aconteceu. Os setores em queda de produção são tradicionalmente alvos da concorrência dos importados, como o de material elétrico e de equipamentos de comunicações.

Mas é preciso somar ao avanço das importações os estragos causados pela crise agrícola. Mesmo em relação a bens de capital, que mostrou um preocupante recuo, não há homogeneidade. São as máquinas e equipamentos destinados à agricultura que puxam o resultado para baixo. No ano até setembro, mostram redução de produção de 20,5% e, no caso de outros equipamentos e peças para a mesma atividade, o tombo é de 37,2%. Por outro lado, há aumento de produção em todas as categorias de bens de capital para fins industriais, com destaque para os bens não-seriados (5,18%). A produção, por outro lado, cresceu bastante para atender a construção (11,3%) e o setor de energia elétrica (31,7%).

São os investimentos que asseguram o crescimento e, ainda que eles estejam crescendo, em alguns setores partem de base muito baixa e, de outro lado, são insuficientes para sustentar um crescimento muito maior que os 3% atuais. Para desatá-los é preciso uma carga tributária menor e um custo de capital baixo. Isso, por sua vez, exige que o Estado aperte os cintos, gaste menos e melhor e aumente investimentos. Colabora para ambos objetivos a redução dos juros, que tem ainda um bom espaço para cortes. A produção industrial de setembro mostrou que a situação atual não aponta para a necessidade de maior parcimônia no movimento de queda.