Título: MST recusa proposta de plantio de eucalipto da VCP
Autor: André Vieira
Fonte: Valor Econômico, 28/12/2004, Empresas &, p. B4

O Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra (MST) recusou a proposta da Votorantim Celulose e Papel (VCP) de adesão ao programa de plantio de eucaliptos no Rio Grande do Sul. "A proposta não é economicamente viável", disse o coordenador do MST gaúcho, Adelar Pretto. O movimento, contudo, não vai se opor caso os assentados aceitem integrar o programa, disse Pretto. Depois de ter propriedades invadidas, a direção da VCP propôs em setembro, por escrito, ao MST que participasse do programa "Poupança Florestal", lançado mês passado na metade sul do Rio Grande do Sul. A resposta era esperada para o dia 15. O plano chamou a atenção pela tentativa do grupo Votorantim em assegurar uma parceria com os integrantes do movimento sem-terra. Mas, com a recusa dos líderes do MST, a idéia não deve ser seguida pelas outras indústrias de papel e celulose. O "Poupança Florestal" prevê o fornecimento de mudas, assistência técnica, financiamento bancário (9% ao ano pelo Banco ABN Amro) e garantia de compra da madeira por 14 anos (dois ciclos de produção) de eucalipto. A projeção da VCP é plantar inicialmente 5 mil hectares de florestas por meio de parcerias. O MST achou a proposta inviável porque, segundo Pretto, a VCP ofereceu cerca de R$ 100 mensais por hectare. "Se botar duas vacas de leite, se tem o dobro de retorno", declarou o coordenador do MST. "Há outras alternativas mais lucrativas." Ele afirmou que a Cooperal, uma cooperativa de produção de leite com assentados na mesma região, produz hoje cerca de 180 mil litros por mês. O coordenador regional do MST disse ainda que a proposta gera problemas de degradação do solo. "Eles só querem as terras boas que servem para a agricultura." A decisão do MST foi tomada pelos líderes do movimento e outras entidades em reunião realizada em Pinheiro Machado (RS), no dia 6. Questionado sobre a possibilidade de rever a posição caso a proposta financeira melhore, o líder do MST disse que a 'sociedade precisa discutir o futuro da região'. "Só porque eles têm dinheiro é que se acham donos da verdade", afirmou. A VCP disse confiar nos resultados do "Poupança Florestal". "Temos um projeto coerente, consistente e que vai beneficiar o produtor rural que não precisa fazer nenhum desembolso durante o plantio", disse, por intermédio da assessoria de imprensa, o presidente da VCP, José Luciano Penido, que já sabia da posição da direção-nacional do MST desde o fim de novembro. Na feira de lançamento do programa, a VCP cadastrou cerca de 4 mil produtores, dos quais mil eram assentados. Em média, cada assentado possui 20 hectares - metade da área pode ser usada para o plantio desde que se formem lotes de no mínimo 100 hectares. O programa da VCP permite combinar o plantio de árvores com outras culturas, gerando uma renda adicional aos produtores. Nas contas da VCP, o programa projeta um lucro de R$ 2,7 mil por hectare, deduzidas de R$ 2,3 mil com as despesas financeiras e insumos ao longo de sete anos. Para a Votorantim, o valor é superior ao preço de um lote na região, que oscila entre R$ 1,8 mil e 2,1 mil por hectare.