Título: Fabricante de longos tem resultado melhor
Autor: Nakamura, Patrícia
Fonte: Valor Econômico, 08/11/2006, Empresas, p. B6

Nos primeiros nove meses do ano, as companhias siderúrgicas tiveram lucros quase 14% menores em comparação com o ano passado. Empresas ligadas ao aços planos, como Cia. Siderúrgica Nacional (CSN) e o Sistema Usiminas, foram as que mais sentiram os efeitos nocivos da variação cambial e dos preços menos atraentes em comparação à primeira metade de 2005. Segundo levantamento do Valor, os principais grupos brasileiros (Acesita, Aços Villares, Arcelor Brasil, CSN, Gerdau e Usiminas) tiveram no trimestre lucro conjunto de R$ 6,9 bilhões, ante R$ 8 bilhões de julho a setembro de 2005.

As receitas líquidas ficaram praticamente estáveis entre janeiro e setembro deste ano - em R$ 41 bilhões - , por conta da melhora do volume comercializado no terceiro trimestre. As vendas maiores e uma discreta recuperação de preços a partir de junho deste ano contribuíram para a elevação dos números do setor.

Vale lembrar que entre abril e setembro de 2005, os preços tiveram uma queda de 30%, provocada pela sobreoferta de aço no mercado internacional. Hoje, segundo analistas, os estoques nos Estados Unidos e em alguns países da Europa estão em níveis considerados normais.

Produtores de aços longos (Gerdau e Arcelor Brasil) e de aços especiais (Villares) apresentaram lucros mais robustos, por conta do bom desempenho da construção civil e o setor automotivo. "O fortalecimento da demanda interna melhorou as margens das empresas", afirmou Adriano Blanaru, analista-chefe da Link Corretora. A receita líquida do setor no trimestre cresceu 15% em relação ao ano passado. A geração operacional de caixa pelo conceito Lajida subiu 14,5%. O lucro acumulado, entretanto, ficou apenas 0,5% superior. Outra vez, as empresas de aços planos destoaram e pesaram negativamente na média do setor.

Entre julho e setembro, a CSN registrou queda de 35,4% em seu lucro líquido, para R$ 334 milhões, devido a não ressarcimento completo de lucros cessantes com a parada do alto-forno 3, em janeiro. A empresa estimou em R$ 923 milhões o lucro que deixou de obter com a paralisação do equipamento até setembro. Só no terceiro trimestre, foram de R$ 253 milhões.

As despesas financeiras líquidas da CSN cresceram em quase 25%, para R$ 400 milhões, com prejuízos em operações financeiras envolvendo derivativos e "swap" cambial. O Lajida caiu ligeiramente, de R$ 920 milhões para R$ 912 milhões. A CSN produziu 1,3 milhão de toneladas no período, um pouco superior em comparação ao ano passado. As vendas no mercado interno subiram de 613 mil toneladas para 794 mil. Graças à melhoria dos preços, porém, a receita subiu de R$ 2,2 bilhões para R$ 2,6 bilhões. A empresa conseguiu aumentar em 10% o preço de seus produtos para os EUA e Europa.

Já o Sistema Usiminas teve lucro líquido de R$ 715 milhões no terceiro trimestre, uma queda de 9% em comparação com o ano passado. Ao Valor, o presidente da companhia, Rinaldo Campos Soares, afirmou que o desempenho menor deve-se ao câmbio desfavorável e da redução de preço dos aços planos. A companhia também informou ter verificado uma retração de consumo em alguns nichos do mercado interno.

Com a retração do mercado interno, a Usiminas aumentou o volume de exportações, que chegou a 35% das vendas totais do terceiro trimestre. Como o mix de exportação é de menor valor agregado - composto basicamente por semi-elaborados -, houve reflexos negativos para a receita. Tradicionalmente, a siderúrgica mineira não exporta mais do que 20% da produção. No acumulado do ano, o lucro líquido somou R$ 1,763 bilhão, 32% menos que o do mesmo período de 2005.

Segundo Soares, a tendência é de que os números sejam melhores no quarto trimestre, refletindo melhora nos preços. A expectativa é fechar 2007 com um aumento de 8% no volume de vendas de aço no mercado interno.

Pedro Galdi, analista da ABN Amro Corretora, apostam numa redução dos preços de aços planos no quarto trimestre, da ordem de 10%. Já os aços longos devem se manter estáveis até o fim do ano. Entretanto, a trajetória de preços já pode apontar queda no primeiro trimestre de 2007, afirmou Blanaru. Segundo o especialista, uma possível desaceleração da economia mundial pode ampliar o volume dos estoques mundiais e, consequentemente, provocar correção dos preços. A partir do pico de outubro (US$ 530) o preço da placa pode cair ao longo de 2007 em até 30%. (Colaborou Ivana Moreira, de Belo Horizonte)