Título: Emissão de carbono preocupa bancos
Autor: Carvalho, Maria Christina
Fonte: Valor Econômico, 09/11/2006, Finanças, p. C1

Apesar de ser uma indústria sem chaminés ou fornalhas, os bancos aderiram à batalha pelo controle da emissão de dióxido de carbono, um dos principais responsáveis pelo efeito estufa no ambiente, que está elevando a temperatura terrestre. A intenção é ser carbono neutro" ou neutralizar emissão de gás carbônico causada.

Saiu na frente o Bradesco, que já fez o inventário de quanto atividade da sede, na Cidade de Deus, em Osasco (SP), e de suas principais instalações gera a emissão de dióxido de carbono. É o primeiro banco brasileiro a dar partida nesse projeto. O ABN AMRO Real virá logo a seguir. O HSBC tem projeto semelhante, mas no exterior. Em outros setores, a neutralização de carbono apenas começa. A Natura e o escritório Pinheiro Neto Advogados ainda estão debruçados no projeto.

"Temos uma preocupação antiga com o meio ambiente e a estamos incutindo em todos os funcionários", disse o presidente do Bradesco, Márcio Cypriano, que contou ter recuperado a mata ciliar na propriedade que possui no interior de São Paulo.

O inventário apurou que o Bradesco emite 20 mil toneladas por ano de dióxido de carbono. Para compensar o impacto ambiental que essa emissão causa, o banco vai plantar 35 mil árvores por ano, em regiões que a SOS Mata Atlântica determinar. O Bradesco já tinha outra parceria com a SOS Mata Atlântica para qual reverte a receita obtida com um plano de capitalização e que prevê o plantio de 15 milhões de árvores. A cidade toda de São Paulo possui 1,5 milhão de árvores.

O projeto levou um ano para começar a ser tocado, disse Cypriano, e é um primeiro passo. Nesse primeiro momento, o levantamento inclui as emissões de dióxido de carbono causadas por todas as atividades dos funcionários que trabalham na sede e prédios principais como o uso do avião e três helicópteros da instituição, aviões de carreira e outros meios de transporte utilizados pelos funcionários do banco quando se locomovem a trabalho; ou o funcionamento dos geradores a diesel, por exemplo.

O levantamento foi feito pelo próprio Bradesco, com base em informações como horas de vôo e os deslocamentos dos funcionários, explicou Cypriano. Em uma segunda etapa, serão incluídas as emissões causadas pelas agências.

Na próxima segunda-feira, a diretoria do Banco ABN AMRO Real avalia o levantamento que acaba se ser concluído a respeito do impacto de que o banco tem na produção de dióxido de carbono e discute suas alternativas de compensação. A decisão do Real de ser neutro em termos de emissão de carbono foi tomada em novembro de 2005, contou o consultor para projetos sustentáveis especiais do banco, Vitor Hugo Kamphorst. Em junho passado, o banco contratou a empresa ERM Brasil para realizar o levantamento.

No caso do Real, o inventário leva em conta as atividades não só da sede do banco, na avenida Paulista, no centro de São Paulo, mas também de todos os pontos de atendimento, que incluem 1,6 mil agências e 610 postos. O levantamento considera, por exemplo, explicou Kamphorst, a emissão de gás carbônico feita pela frota da financeira do grupo, a Aymoré, utilizada a trabalho e como benefício de funcionários; e também o helicóptero do banco, geradores, e consumo de papel.

Foram consideradas não só as emissões de dióxido de carbono (CO2) mas também de gás metano (CH4) e óxido nitroso (N2O). Conforme explicou Kamphorst, o gás metano tem um impacto negativo no meio ambiente 21 vezes maior do que o carbono e é emitido pelo lixo orgânico, por exemplo, que o banco envia a aterros sanitários. Levando em conta tudo isso, o Real emite 60 mil toneladas de gás carbônico equivalente.

O passo seguindo, disse o consultor, será avaliar as medidas de compensação que, provavelmente combinarão algumas alternativas entre compra de crédito de carbono, reflorestamento, plano de redução de emissão e o financiamento de projetos de clientes com direito a crédito de carbono.