Título: Apelo de Furlan por SGP não comove governo dos EUA
Autor: Landim, Raquel
Fonte: Valor Econômico, 08/11/2006, Brasil, p. A3

O governo dos Estados Unidos recebeu com frieza os apelos que o Brasil fez nos últimos dias pela renovação do Sistema Geral de Preferências (SGP), programa comercial que beneficia o país e várias outras nações em desenvolvimento ao permitir a entrada de certos produtos nos EUA sem o recolhimento de tarifas.

Em visita a Washington para reuniões com autoridades e empresários, o ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan, defendeu a manutenção do programa em várias conversas que teve nos últimos dois dias. Mas em nenhuma delas ele colheu sinais de que o governo americano irá se empenhar pela causa quando chegar a hora de o Congresso decidir o assunto.

Os benefícios do SGP expiram no fim deste ano e só serão prorrogados se o Congresso aprovar uma lei com esse objetivo. No ano passado, empresas brasileiras venderam US$ 3,6 bilhões por meio desse mecanismo, o equivalente a 15% das exportações brasileiras para os EUA.

Furlan mencionou o tema primeiro para o secretário do Tesouro, Henry Paulson, com quem falou na segunda-feira. O secretário disse ter consciência da importância do programa para o comércio e as relações entre o Brasil e os EUA, mas deixou entendido que o assunto passa longe das suas preocupações.

O ministro também falou do SGP com John Veroneau, um funcionário graduado do escritório da representante comercial dos EUA, Susan Schwab. O órgão deverá divulgar nas próximas semanas um relatório com a posição do governo americano sobre a renovação do SGP. Numa reunião recente com empresários, Veroneau reconheceu que o fim do programa seria "problemático", mas não antecipou o que o governo fará a respeito.

Ontem, Furlan falou com o secretário de Comércio, Carlos Gutierrez. Ele também reconheceu as dificuldades que o fim das preferências poderá criar, mas não quis especular sobre o que acontecerá com o programa no Congresso. "Ele não arriscou falar nada", disse Furlan, que também avaliou com Gutierrez o andamento de um grupo de trabalho criado para remover pequenos obstáculos que prejudicam o comércio entre os dois países.

"Meu trabalho é mostrar que o SGP não é importante somente para o Brasil, mas também para a indústria dos EUA", disse Furlan mais cedo, após um café da manhã com homens de negócios. "Há muita desinformação no Congresso americano sobre as vantagens do programa e esse assunto precisa ser examinado de maneira menos emocional."

Muitas companhias americanas dependem do SGP para ter acesso a insumos e matérias-primas produzidas no Brasil e em outros países beneficiados pelo programa, que ajudam a tornar os produtos americanos mais competitivos no mercado externo. Se o benefício acabar, essas empresas poderão se ver obrigadas a buscar outros fornecedores em lugares como a China.

Políticos influentes no Congresso dos EUA aceitam renovar o programa, mas querem excluir alguns países, como o Brasil e a Índia, porque acham que eles ficaram grandes demais para precisar de ajuda do SGP para exportar. Além disso, há muita animosidade no Congresso em relação ao Brasil, devido às posições adotadas pelo país nas negociações da Rodada Doha de liberalização comercial, contrárias aos interesses americanos.

O governo tem pouco controle sobre a situação. Dependendo do resultado das eleições legislativas de ontem nos EUA, ele poderá perder a maioria que tem no Congresso. Encerrada a campanha eleitoral, os congressistas planejam voltar ao trabalho na semana que vem, mas estão com a agenda cheia e dificilmente terão tempo e motivação para analisar o SGP ainda neste ano.