Título: Melão e cereais na mira da Embrapa
Autor: Mônica Scaramuzzo e Paulo Emílio
Fonte: Valor Econômico, 28/12/2004, Agronegócios, p. B8

Depois de concluir o seqüenciamento dos genomas do café e do eucalipto e de iniciar a triagem do genoma da banana, a Embrapa aposta na biotecnologia para obter um melão mais doce e variedades de arroz, milho, sorgo e trigo mais resistentes a problemas climáticos. Neste ano, a Embrapa Biotecnologia iniciou o mapeamento genético do arroz, do milho e do sorgo, para detectar trechos de DNA responsáveis pela resistência ao frio e à seca. O projeto Orygens surgiu em 2003 com a pesquisa sobre o arroz (Oryza sativa L.). Conforme Márcio Elias Ferreira, pesquisador da Embrapa Biotecnologia, o arroz é parente biológico de cereais como milho, sorgo e trigo, e existem seqüências similares entre eles. "O genoma do arroz é o mais simples, mas a partir dele é possível conhecer outras gramíneas", afirmou o pesquisador. A Embrapa compilou dados de bancos de genoma do arroz de acesso público. O DNA do cereal foi seqüenciado quatro vezes - por Monsanto (2000), Syngenta e Myriad (2002) e, neste ano, por um consórcio de dez países. Também foram incluídos dados obtidos a partir de pesquisas feitas com arroz, milho e sorgo. Ferreira disse que, a partir do mapeamento genético desses cereais, a Embrapa inicia em 2005 pesquisas para criar novas variedades. O trabalho tem conclusão prevista para 2007. Participam do projeto sete unidades da Embrapa, Empresa de Pesquisa Agropecuária (Epagri-SC), Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP), Instituto Riograndense do Arroz (Irga), Universidade Católica de Brasília e Universidade Estadual do Norte Fluminense. Em 2003 e 2004, foram aplicados R$ 550 mil vindos do CNPq e para o período de 2004 a 2007 a Embrapa vai aplicar R$ 3,2 milhões na pesquisa. A partir de 2005, a empresa iniciará testes com trechos do genoma do melão, para desenvolver variedades mais doces, para atender ao gosto de consumidores nacionais e internacionais. A pesquisa é realizada desde 2002 por quatro unidades da Embrapa, em parceria com Escola Superior de Agricultura de Mossoró, Universidade Católica de Brasília e Emater de Brasília. A variedade de melão escolhida é o valenciano, o mais plantado no país. Conforme Ferreira, foram mapeados trechos do genoma responsáveis pelo sabor e pela capacidade de acumular água e açúcar. Serão feitos testes para obter plantas que gerem frutos mais doces e de sabor padronizado. Essas variedades serão testadas em campo por até três anos, em Brasília, nos centros de hortaliças e recursos genéticos da Embrapa, e em Baraúna (RN), em parceria com a empresa Vitória Agrícola. O projeto tem orçamento de R$ 174,2 mil, vindos do Banco Mundial via Prodetab. O genoma do melão também é pesquisado por Israel, Espanha e EUA.