Título: Discurso de Gerdau incorpora justiça social como desafio
Autor: Agostine, Cristiane e Felício, César
Fonte: Valor Econômico, 08/11/2006, Política, p. A8

Cogitado para assumir um ministério no governo Lula, o controlador do grupo Gerdau, Jorge Gerdau Johannpeter, assumiu o tom de ministro da área econômica ao falar em nome dos empresários premiados pela revista "Carta Capital", em um cerimônia na noite de segunda-feira, diante do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O discurso incluiu até a justiça social como desafio das elites.

Controlador do quinto maior grupo econômico privado nacional, Gerdau é citado para as pastas do Desenvolvimento, ocupada hoje pelo também empresário Luiz Fernando Furlan, Previdência ou Fazenda. Publicamente, o empresário nega tanto o convite como o interesse em assumir um ministério. E enfrentaria obstáculos caso decida ingressar na vida pública: a sucessão no grupo Gerdau ainda está em processo de consolidação e o setor siderúrgico passa no momento por um processo mundial de fusões e aquisições. Um vácuo no processo de decisões poderia vulnerabilizar o conglomerado.

Em seu discurso, o empresário disse que a poupança pública pode ser aumentada a curto prazo, com maior eficiência na gestão. "A poupança pública tem sido zero. Otimizar a gestão é um assunto de interesse nacional", disse. Gerdau ponderou que "o assistencialismo do Estado é absolutamente necessário, mas deve ser transitório" e fez uma exortação às elites: "A elite em geral está com saldo devedor, no que se refere à responsabilidade como cidadão. Falta indignação. Há um conformismo histórico com o não crescimento, a não geração de empregos que nós não devíamos aceitar de forma alguma. Falta assumir a responsabilidade de buscar, de forma fanática, aumentar a poupança pública".

Gerdau sugeriu o estabelecimento de uma meta de elevação da formação bruta de capital fixo da faixa de 20% para 26% do PIB. Ao responder ao discurso, Lula comentou que, na verdade, este indicador já representa 23% do PIB. Após seu discurso, Gerdau explicou porque não deu ênfase em seu discurso a reformas institucionais, como a previdenciária, a tributária e a trabalhista. "Estas são mudanças de longo prazo, a eficiência da gestão é um objetivo para agora".

Ao abrir sua fala, Gerdau rendeu homenagens ao trabalho da atual equipe econômica, sempre defendido pelo presidente. O empresário descreveu o tripé formado pelo câmbio flutuante, o superávit primário e o regime de metas inflacionárias como " importantes conquistas nos últimos anos , que beneficiando as camadas mais carentes da população".

Em diferentes momentos, o empresário procurou demonstrar parceria para o segundo mandato do presidente Lula. "Vamos trabalhar juntos para construir um país socialmente justo. É um desafio coletivo, uma obrigação de todos nós", disse. Ao presidente Lula, Gerdau cobrou melhores índices de desenvolvimento -"para poder reduzir reduzir as desigualdades sociais e dar dignidade a todos", mas ressaltou que "do lado empresarial temos um desenvolvimento bastante satisfatório".

Gerdau cobrou um aquecimento da economia. "Com crescimento de 2,5% vamos levar cem anos para dobrar a renda per capita. Somente o crescimento econômico é que pode gerar mais empregos. E conseqüentemente, reduzir as desigualdades sociais e dar dignidade a todos". Mas a meta defendida pelo empresário é aquela já anunciada pelo ministro Guido Mantega para 2007: crescimento de 5% do PIB ao ano -"preferencialmente algo entre 6% e 7% ao ano".