Título: Disputa interna na PF alveja Jobim
Autor: Costa, Raymundo e Romero, Cristiano
Fonte: Valor Econômico, 08/11/2006, Política, p. A9

A disputa de poder na Polícia Federal pode ser um complicador para a indicação do ex-presidente do Supremo Tribunal Federal Nelson Jobim para o Ministério da Justiça, desejo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva manifestado a mais de um interlocutor. Setores da PF têm restrições à passagem de Jobim pelo cargo, no primeiro mandato de Fernando Henrique Cardoso, quando a corporação foi dirigida pelo delegado Vicente Chellotti, que é ligado não só ao ex-ministro do STF, mas também ao deputado Eliseu Padilha (PMDB-RS).

Com a anunciada intenção do ministro Márcio Thomaz Bastos de deixar o governo, a sucessão na PF foi aberta na prática. Dirigentes do órgão consideram que conseguiram criar um grupo homogêneo na polícia, o que permitiu ao governo Lula desencadear as ações que costuma ressaltar, como o combate a corrupção. Além disso, a PF recebeu recursos para trabalhar, facilidades de que não dispunha quando Jobim era ministro de FHC. O centralismo de Chellotti e algumas ações realizadas no período, como grampos clandestinos, também estariam sendo lembradas pelos adversários da indicação.

Ao tomar conhecimento das alegações contra Chellotti, um político próximo a Lula fez questão de ressaltar que Paulo Lacerda, o atual diretor da Polícia Federal, também seria ligado ao PFL - ele trabalhava no gabinete do senador Romeu Tuma (PFL-SP) antes de assumir a nova função no governo Lula.

Políticos próximos ao presidente, no entanto, informaram ao Valor que a disputa interna na PF não deve balizar a decisão do presidente sobre Jobim. O que pode ocorrer é o ex-presidente do STF, que também é cotado para assumir a coordenação política do governo, não aceitar voltar a trabalhar no setor público. Jobim está sendo pressionado por sua família nesse sentido. O ex-ministro teve muito êxito em sua volta ao setor privado. No caso de Jobim recusar um convite, Lula já dispõe de uma alternativa: o ministro Sepúlveda Pertence, do STF, que já cogitou a hipótese de antecipar sua aposentadoria do tribunal, prevista apenas para meados de 2007.

O ministro das Relações Institucionais, Tarso Genro, cobiça o Ministério da Justiça. Genro estava bem com Lula até o dia seguinte à eleição, quando decretou o "fim da era Palocci", o que aborreceu o presidente, que teve de desautorizá-lo publicamente.

Com a saída de Thomaz Bastos da Justiça, o presidente Lula deve também mudar a direção da Polícia Federal. Paulo Lacerda, no entanto, continuaria no governo, em outra função. "Ele está prestigiado", conta um auxiliar do presidente.

Lula tem ouvido muito e falado pouco sobre a reforma ministerial. "Ouve com os dois ouvidos e não diz nada", contou um colaborador que esteve ontem com o presidente. Uma das poucas referências feitas pelo presidente foi ao PMDB: ele está incomodado com a diversidade de interlocutores do partido com quem tem falado, mas está "conformado" com a situação e deve dar ao partido os ministérios necessários para conciliar as suas várias lideranças.

Lula, segundo um ministro, pretende anunciar os nomes do ministério de seu segundo mandato nos primeiros dias de dezembro. O objetivo é dar um mês para que os novos ministros se preparem para exercer a função.